14.9.08

Unidunitê

Não sei onde nem com quem aprendi isso, mas sempre, em tudo o que vivo, esgoto todo meu sentimento. É assim com emprego, família, amigos e amores.

Esse jeito me causou inúmeros desconfortos durante a minha existência. Muitas vezes fui apontada na rua com o dedo indicador em riste, bem em direção ao meu nariz: você não tem vergonha na cara, não tem amor próprio. Trouxa!

Trouxa porque ganhava muito menos do que merecia e mesmo assim me contentava com um cala a boca agradinho aqui e outro ali, que ilusoriamente faziam com que me sentisse importante.

Trouxa porque quase sempre fui a que gostava e não era gostada. Do craque do time de vôlei. Do garoto que passava de moto na minha rua. Do camarada que dançava mais bonito na domingueira. Do rapazinho que tocava na banda X, do que tocava na banda Y e no que tocava na banda Z (haja banda, pelamor!!!). Do que tinha outra namorada/noiva/mulher e do que voltou a namorar a namorada anterior.

Trouxa porque sempre insisti nas amizades que me são importantes, por mais longe que elas fossem passear.

Trouxa porque nunca deixei de viver o que sentia até o fim. Só viro a página de uma vez quando não me resta mais sentimento bom. Ou quando alguma coisa aqui dentro – e não aí fora – me faz sentir que “bem, agora esgotou”.

Eu, que sou a rainha da auto-ridicularização, auto-piedade, auto-crítica, auto-a-puta-que-o-pariu-de-mais-cruel, tenho sido o papa do auto-orgulho ultimamente por ser assim. Não consigo conceber a auto-sabotagem de um ser humano que toma decisões determinantes na vida, que mudam totalmente seu próprio rumo sem estar certo do que sente de verdade. Toda escolha deste tipo tem conseqüências sérias: outra carreira, outro estilo de vida, outra mulher, outro marido, outro TUDO. E como é possível VIVER outro tudo sem SENTIR isso tudo? E aí - e só aí - quando alguma coisa não sai como o planejado, é que o sujeito se dá conta de que lá atrás deixou de ser honesto consigo, deixou de ser fiel aos próprios sentimentos.

Mas a auto-sabotagem tem um preço altíssimo. Talvez o mais caro seja o amargo e dolorido arrependimento do rumo que NÃO se deu na vida quando ela já está determinantemente posta de uma forma absolutamente diferente, anos e anos mais tarde.

Continuarei, se for o caso, sendo apontada na rua por dedos indicadores nefastos: trouxa! Não me importo. Sigo na empreitada de viver tudo até o fim. Até que meus sentimentos (de)terminem. Essa é a minha escolha.

*

7 comentários:

Lica disse...

Nossa...não consigo nem dizer nada, Tatinha...
Amo, bigger!
Saudade!!!

Anônimo disse...

Olha só acho q devemos gastar tudo até a exaustão, pois só assim podemos começar do zero....

bjuss

Anônimo disse...

Também não sei o que dizer... mas tô aqui anyway, tá? Uma bêicho!

Patrícia Carvoeiro disse...

Meu pai morre se ler este post. É ele (a pessoa que teve as atitudes mais disparatadas na vida, sem se preocupar com as conseqüências. E chora, chora, chora hoje em dia. E me faz chorar muito mais que ele. Ah, um dia eu ainda vou entender o que o levou a fazer muita coisa. Não sei como e quando vou entender, mas não posso morrer com as dúvidas que tenho... :/)...
Amei seu desabafo.
Muitos beijos.

Anônimo disse...

Se ser trouxa é ter princípios...o Brasil precisa urgente de trouxas...por que daqueles que se julgam espertos ta transbordando... e os resultados os piores.

Anônimo disse...

Sabe que estes dias eu li não sei nem onde que o segredo para se viver feliz é se desfazer da bagagem. Eeeé, trocando em miúdos, se livrar dos sentimentos relacionados a coisas do passado.
Gastá-los é uma forma de deixá-los ir. Talvez da forma menos prática e quiçá a mais dolorida; mas ainda assim, uma maneira!
E, assim, como bem finalizou o tal gênio, esvaziar de sentimentos o coração para que dê a chance a outros tantos voltarem a enchê-lo.
Um beijo com boca de colher!!Êba!

Émie disse...

E por que diabos a gente é TÃO incompreendido?! Eu também sou trouxona...