Meu novo eu pratica exercício físico. Se estica inteiro em
aparelhos modernos que parecem querer te derrubar o tempo todo e, além de se
esforçar para não cair, ainda tem de coordenar a respiração fazendo força no
abdome.
Meu novo eu recarrega o telefone com as músicas preferidas e crê
que são elas que movimentam suas pernas para que ele consiga completar a volta
no lago do parque, a 14 graus com chuva.
Meu novo eu ouve meditativas canções enquanto lava a verdura e prepara um
filé grelhado para o jantar.
Meu novo eu vai ao supermercado e compra ingredientes absolutamente
estranhos, tais como “iogurte 0% de gordura”, “damascos secos”, “queijo cottage”,
“adoçante com sucralose”.
Meu novo eu se alimenta com esses ingredientes estranhos a
cada 3 horas.
Meu novo eu assiste à novela das nove.
Meu novo eu vai ao pneumologista pedir ajuda para deixar de
ser o antigo eu.
Meu novo eu tenta obstinadamente entender o lugar que ocupa
no mundo, o que quer, do que precisa e para onde está caminhando.
Meu novo eu não troca o sofá e a cobertinha roxa numa noite
fria por uma pista ocupada por pessoas falsamente felizes e demasiadamente
autorreferentes, mesmo que toquem as músicas preferidas dele.
Meu novo eu tá velho. E tão mais feliz.
*