27.8.07

Silenciosamente

Cena: casal adormece abraçadinho.
Duas horas depois, ela começa a sentir dores no corpo.
Logo em seguida, ouve barulhos internos, vindos do tórax. Os ossos da costela dela estavam se partindo. Um por um.
Ela inclina a cabeça para trás, olha para ele, de soslaio.
Corta

Cena dois: A veia da testa dele estava saltada. Ele rangia os dentes, ainda com os olhos fechados. A expressão dele era parecida com a do Chuck, o Boneco Assassino.
Ele tentava assassiná-la, tal qual uma cobra constrictora. Assim como uma Anaconda vitima suas presas, se enrolando no corpo delas até tirar-lhes todo o ar.
Corta

Cena três: Ela acorda chorando.
- Amor, você tentou me matar agora há pouco?

19.8.07

Versão

Já que os quatro leirores a imensa audiência deste blogue não se animou muito com a tese de Cuba, tentemos uma adaptação do "Poema de Sete Faces" do Drummond, que me foi muy gentilmente recitada pelo namorado:

"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida Vai, Tata! ser bagunçada na vida.

12.8.07

Hay Que Endurecer, Pero...

Fidel Castro completa 81 anos nesta segunda-feira. Afastado do poder há 1 ano, para cuidar da saúde, a condição atual do ditador cubano ainda é tema de especulações e mistério. O mesmo mistério que permeia mentes estrangeiras a respeito do modo de vida da população do país.

É incrível a curiosidade das pessoas por Cuba, um dos únicos redutos remanescentes do comunismo no mundo. Basta lembrar das perguntas dos amigos quando eu voltei de lá: Como é? As pessoas são pobres, mas felizes? Educação? Saúde? E o Buena Vista? E o Orishas?

Desde sempre tenho interesse pela ilha. Da história da revolução à biografia de Che Guevara e às histórias de Pedro Juan Gutiérrez, li bastante sobre o país. Mas só indo até lá e conversando com aquele povo tão caloroso é possível ter a noção (mais ou menos) real de como se vive em um país isolado do resto do planeta e entender que aquela realidade vai muito além do que Wim Wenders mostrou no cinema ou do sucesso do Orishas.

Estive em Cuba há dois anos. Fui ciceroneada por um publicitário cubano, de 40 e poucos anos, que trabalha numa agência que presta serviço - claro! - para o governo (vide texto abaixo, escrito um dia depois da volta). Em 8 dias, experimentei sentimentos absolutamente contraditórios e inéditos pra mim. O próprio sistema da ilha me fez sentir assim. A divisão começa no bolso. O peso cubano é a moeda corrente local. Mas qualquer estrangeiro em turismo por lá faz uso de outro peso: o conversível. Na teoria, 1 peso conversível vale 1 dólar. Mas na hora da troca, você deixa 20% de taxa para o governo. Cubanos recebem em peso, mas ganham gorjetas em pesos conversíveis. Assim, as propinas representam mais em valores do que muitos salários mensais.

Nos primeiros dias da viagem, eu me senti pobre-pobre de marre-marré. Meu espírito de turista se lembrava do quanto eu tive que trabalhar para ir até lá. O quanto me faltava de dinheiro para ir a outras províncias cubanas, além de havana, como eu gostaria de fazer. E o quanto era mais fácil para os três espanhóis que eu conheci viajar a ilha toda, já que eles ganham em euro.

Mas, inevitavelmente, me senti triste por ser tão afortunada comparada àquela gente. Ao constatar as condições absolutamente precárias de trabalho daquelas mulheres nas fábricas de charutos. Ao ser abordada na rua por pessoas que te pedem alguma coisa, “qualquer coisa”. Ao ver dezenas de pessoas morando em apenas um cômodo. Meus pensamentos ficaram ainda mais confusos ao ver que, de fato, apesar de todas as adversidades, são um povo alegre, mesmo. Um povo caloroso, musical, sensual. Me senti numa espécie de zoológico ou laboratório, observando a forma como aquelas espécies vivem. Cerceadas. Enjauladas. E como o modo de vida delas é diferente do meu.

A despeito de toda a publicidade positiva que o governo cubano não se cansa de fazer acerca do regime – e que está espalhada em outdoors por todos os cantos do país -, a realidade é bem diferente. Esta história de que em Cuba as pessoas “são pobres, porém felizes” é uma meia verdade. As opiniões se dividem dependendo da faixa etária do seu interlocutor. Os mais velhos, aqueles que viviam na ilha antes da Revolução, preferem o sistema atual, porque dizem que na época de Fulgêncio Batista a vida era muito pior. Hoje, ao menos, têm onde morar e o que comer. Os mais jovens, que nasceram sob o comando de Fidel, não toleram o comunismo e não vêem a hora de poder sair de Cuba, muito embora não bradem suas opiniões, porque, como se sabe, se forem ouvidos, são duramente repreendidos.

Este choque me atormentou durante todos os 8 dias. Eu comparava aquilo com a vida no meu país, que também é difícil. Não sei se é um raciocínio muito classe-média, mas eu penso que aqui ninguém frustra seu sonho deliberadamente. Se houver empenho (ainda que a duras penas, durante a vida inteira), talvez se consiga realizá-lo. Em Cuba, não. À exceção de atletas e artistas, é proibido sair de lá. E lá não se pode mudar de casa. Não se pode ter um carro, sem autorização do governo. Te obrigam a viver de um modo que talvez você não queira. Te obrigam a viver de uma forma que um dia alguém julgou que seria a melhor, a ideal. E não há possibilidade de mudar. Os jovens cubanos têm que tolerar milhares de gringos endinheirados desfilando câmeras fotográficas de última geração, roupas, tênis e outros produtos capitalistas que eles não podem ter. Porque alguém proibiu que eles tenham. Vão engolindo seus desejos, seus sonhos, sua prosperidade, enquanto bebem rum e batucam músicas na mureta do Malecón em noites quentes. Assim aguardam a morte de Fidel.

Feliz Cumpleaños, el comandante!

A Lo Cubano

(texto escrito em junho de 2005)

As ruas de Havana são mal iluminadas. Têm um odor forte. Muitas moscas sobrevoam a capital. As calçadas são esburacadas e um pedestre desatento corre o risco de cair e se machucar feio. O trânsito é um caos, sem sinalização nenhuma. As pessoas dirigem devagar. O pedestre que não se cuida toma uma buzinada estridente na orelha. Todas as buzinas são estridentes em Havana. É até engraçado!


Transporte
Compram-se automóveis do governo. São poucos e velhos. Nem todo mundo tem dinheiro para ter um. O cubano se locomove muito a pé e de bicicleta. Os ônibus, “camelos”, como são chamados, são grandes e têm capacidade para 200 pessoas. E vivem muito lotados. Pensávamos em nos locomover de ônibus por lá, até encontrar um passando pela rua. Nosso meio de transporte corriqueiro era o táxi, mesmo. Claro que no primeiro dia pagamos valores absurdamente altos, por falta de informação. Condição fundamental para nos ter como passageiras: ter taxímetro no automóvel. Ou negociar um bom preço, o que viesse primeiro.

Habitação
Os grandes casarões muitas vezes são divididos entre as famílias. À medida que elas vão crescendo, o espaço vai diminuindo, já que são poucos os que têm dinheiro pra ir morar em outra casa. É comum ver três gerações morando num mesmo cômodo. Na década de 60, logo após a revolução, eram comuns os sistemas de micro-brigadas. Se o sujeito queria uma casa, pedia para o governo, que o liberava de seu emprego por 3 ou 4 anos. Ele reunia cerca de 30 pessoas e o próprio grupo construía um prédio. Depois, voltavam aos seus empregos. Hoje, não funciona mais.

Saúde
A emergência nos hospitais às vezes é deficitária. Ouvi uma história horrível de um homem que deslocou o ombro e precisou fazer cirurgia. Não pôde ser atendido na hora. Depois, não havia anestesia. Colocaram o ombro do cara no lugar a sangue frio, apenas com algumas doses de rum. Apesar disso, Cuba é, sim, referência em muitas áreas da saúde, como a oncologia.
A propósito, um médico ganha, em média, 21 dólares por mês. Sim, POR MÊS.

Educação
É garantida a todos, até a universidade. Segundo nosso amigo cubano, a educação em Cuba é boa, mesmo. Nessa área, o sistema efetivamente funciona!

Emprego
O governo garante. Só não garante que haja vaga na sua área. Sempre de acordo com nosso cubanito amigo, o salário mínimo é de 225 pesos cubanos. E é proibido ter mais de um emprego no país.

Alimentação
Todo chefe de família possui uma caderneta (parecida com aquela carteira de vacinação daqui). Nela é anotada a cota de produtos subsidiados pelo governo que ele recebe por mês nas bodegas. Só recebe leite quem tem criança até 7 anos. 2 quilos de leite em pó custam 5 pesos no chamado “mercado negro”. Há escassez de produtos. Não tem carne de vaca. Na caderneta que eu vi, a família ficou 3 meses sem receber sabonete. Uma outra pessoa lembrou que a quantidade de arroz subsidiada não é suficiente. Quem quer comprar mais, vai até o mercado de camponeses. Meio quilo de carne de boi, por exemplo, sai por mais ou menos 2 dólares e meio.

Segurança
Sim, Havana é uma cidade segura. Não há crimes, violência, assaltos e roubos como estamos acostumados por aqui. Há muitos policiais nas ruas, todos desarmados. Mas é bom ficar de olho na câmera fotográfica.

Lazer
Sábado à noite o Malecón ferve. O Malecón é avenida da praia, com calçadão e tudo. A diversão das pessoas é reunir os amigos na mureta, cantar e beber muito rum. Eita povo alegre! Cubanito nos disse que os jovens de Havana bebem e fumam muito.
No Cine Yara (em La Rampa) notamos um grande número de filmes norte-americanos em cartaz. Parecia estranho, já que não existem relações comerciais entre os dois países (o tal do embargo e tal...). Cubanito tinha a resposta: os filmes vêm por satélite, são copiados. Sim, pirateados, mesmo. Há cortes nas partes que ideologicamente não são interessantes, antes de serem projetados nas salas. E todos são dublado, ninguém ouve nada em inglês.

Só algumas pessoas têm acesso à Internet. O cubanito tem, mas disse que vários sites são bloqueados. Ele também tem acesso ao MSN, mas todos os diálogos passam por dois intermediários da censura.

Patrulha ideológica
Cubanito não quis mais nos esperar no lobby do hotel a partir do terceiro dia. Estava sendo rodeado sutilmente pelos seguranças. Na praça onde passamos a nos encontrar diariamente, os policiais também ficavam de olho, que eu vi.
Conversamos sobre todos os assuntos. Mas era mais seguro interromper o diálogo quando o garçom vinha trazer nossas bebidas.

Oposição ao regime?

Existe. São os grupos de direitos humanos. Onde há membros do governo envolvidos. E como todo mundo sabe disso, quase ninguém participa. Então, não funciona.

Povo
O povo cubano é muito alegre, muito festeiro, muito solícito. Quase todo mundo fala com você com sorriso no rosto. Perguntam das novelas, sucesso absoluto em Cuba. Aliás, tive o prazer de ver um capítulo de “Esplendor”, dublada em espanhol. Ficou engraçada!


lamento a limitação desta droga de blogspot, que não me permite colocar fotos de nada. tinha umas ótimas...

10.8.07

Os Simpsons - O Filme

Antes de qualquer coisa, um esclarecimento/desabafo: meu micro não me permite mais acessar meu próprio blog. Nem o micro da firma. Nem o da minha irmã. As máquinas simplesmente se revoltaram. Quando digito este humilde endereço, elas me informam que esta página não existe. De modo que, neste momento, não sei se estou escrevendo para alguém ler ou se este texto está destinado ao buraco negro engolidor de tampas de canetas BIC.

Mas vamos ao assunto...

Está tudo lá: o difícil relacionamento entre pai e filho, a tosquice de Homer, nudez e sexo, piadas sarcásticas e inteligentes, referências políticas e musicais. Junte a todos estes elementos o fato de “Os Simpsons” ser uma das séries mais bem sucedidas da televisão, com dezoito temporadas, quatrocentos episódios e inúmeros prêmios.

“Os Simpsons – O Filme” parece um episodião de uma hora e meia. Logo no começo, Homer verbaliza o que talvez esteja na cabeça de muita gente sentada na poltrona da sala de cinema: “Eu não acredito que tô pagando para ver um treco que passa de graça na TV!”. Fora da tela, o co-produtor executivo, James L. Brooks, define: “O que distingue o filme do desenho da TV são as dimensões”. E, sim, vale pagar o ingresso.

Com cerca de 450 cópias - a maioria esmagadora dublada -, o longa chega aos cinemas na semana que vem. E promete não decepcionar os fãs da série.
Homer tem a missão de salvar Springfield de uma catástrofe ambiental, provocada por ele mesmo, quando adota um porco de estimação (destaque aqui para a cena dele fazendo o animal andar no teto, entoando uma adaptação do refrão de “Spider Man”). O desastre faz o presidente Arnold Schwarzenegger - sim, ele é o presidente dos Estados Unidos - tomar uma providência extrema, o que enfurece os moradores da cidade, que querem, literalmente, matar Homer. E ele precisa, então, desfazer a cagada confusão, conquistar o perdão de Marge e salvar a cidade do apocalipse. Em meio a tudo isso tem Al Gore, Hillary Clinton, Green Day e Ramones.

A produção do filme começou em 2003, com os primeiros esboços do roteiro. A trama do longa foi mantida em segredo absoluto, o roteiro ficou fechado o tempo todo no escritório da produção. Nenhum dos realizadores dava detalhes sobre a história. Mas, em tempos de internet, um trailer antecipado revelou um elemento novo na família: o tal do porco, que é o ponto de partida da trama. Mas não estragou a surpresa. Vários anos e pizzas pela madrugada depois, o resultado é um filme pra lá de inteligente e divertido. “Não há apenas uma história. Cada membro da família Simpson possui um perfil histórico de seu crescimento e de sua redenção, até mesmo o bebê. Queríamos que o filme segurasse emocionalmente o público até o fim, e talvez esse tenha sido o nosso maior desafio”, diz o produtor executivo Al Jean.

Se você for dos mais apressados, daqueles que deixam a sala tão logo começam a subir os créditos, pode perder alguma coisa. Segure sua vontade de fazer xixi e espere o final definitivo do filme. Ouça a última fala de Maggie. E discorde dela se for capaz.