26.7.07

V de Vingança e o Caos Aéreo


Eu vou acompanhando toda essa putaria que acontece no setor aéreo do país com uma certa objetividade jornalística. Tratando fato como notícia e ponto. Como se o Brasil ganhasse ouro no vôlei. Como se fosse a queda de 1 por cento da Bovespa.


O acidente com o avião da Gol, há 9 meses, pra mim foi meio assim. Dei a notícia. Noticiei a repercussão. E foi por causa do acidente que saí da redação quase as 3 horas da manhã daquela sexta feira. Outro avião se acidentou na semana passada. De novo, eu tive que dar a notícia. Acompanhei e noticiei a repercussão da tragédia. E saí da redação quase 1 da manhã, naquela terça feira.

Eu sempre fico um pouco passada com estas tragédias. Um pouco. Elas não me sensibilizam mais tanto. Sei lá, depois de passar um bom tempo visitando favelas incendiadas e pessoas desabrigadas, chacina na periferia, rebelião em presídio, veículos acidentados, pessoas feridas e quetais, acho que tratar fatos assim, com uma certa distância, pode ser normal (se não for, alguém me avisa, que eu corro pro psiquiatra mais próximo). Veja, não se trata de perda de capacidade de indignação. Eu me revolto freqüentemente com o que eu leio, ou ouço no rádio ou vejo na TV. Mas desta vez, além de indignada, eu realmente fiquei triste. Na semana passada, pela primeira vez na vida, eu chorei lendo jornal. Lendo os depoimentos daqueles familiares.

O governo e os empresários deste país devem dar graças a Deus todas as noites pelo fato deste povo ser tão pacífico. Mesmo com tanto desgoverno, tanta desgraça. Mesmo pagando impostos altíssimos, que fazem o Brasil figurar no topo da lista dos países com maior carga tributária do planeta. Mesmo que, ainda assim, não recebam um milésimo dos impostos pagos de volta em serviços dignos.

Acho uma bobagem culpar alguém pelo caos. O governo, as empresas, o fabricante dos aviões, quem quer que seja. O negócio ganhou uma proporção tão grande que não existe UM culpado. A putaria no setor aéreo é generalizada.

Se o Gênio da Lâmpada aparecesse aqui, agora, pra mim, eu pediria para ter o dom da persuasão e a persistência do protagonista mascarado de “V de Vingança”. Que não aceitava ser tratado como imbecil pelo governo da cidade dele. Que acreditava que aquela dinâmica tinha que ser diferente. Que as coisas não precisavam ser tão ruins e podiam melhorar. Acreditava nisso, convenceu as pessoas disso e, juntos, fizeram mudar.

Gênio da Lâmpada, apenas um dia seria suficiente. Então, eu convenceria os cerca de 180 milhões de brasileiros a deixarem de usar aviões. E ninguém, NINGUÉM mais embarcaria de lugar nenhum. Aeroportos de todo o país ficariam às moscas. Reuniões importantes de engravatados seriam canceladas. Negócios importantes seriam perdidos. Campeonatos de futebol seriam cancelados. Mercadorias deixariam de ser entregues. Hotéis ficariam vazios. Edições da Folha, Estadão e O Globo deixariam de ser entregues fora do eixo Rio-SP. Empresas iriam à falência. Com tudo isso, milhões de reais escorreriam pelo ralo. A Fiesp e a Fierj organizariam manifestações, em conjunto com Associações, Organizações Não Governamentais e parlamentares da oposição, com o apoio de todos os grupos de comunicação. Convocados por eles, milhares de brasileiros iriam às ruas de todas as capitais do país.

Apenas uma ou duas semanas seriam suficientes. Aposto como empresas aéreas, Anac, Infraero, controladores de vôo, pilotos e governo federal se entenderiam rapidamente. E a putaria no setor aéreo teria fim, sob o risco de um novo boicote geral, mobilização maciça e a quebra da economia. Sem que mais nem um cidadão tivesse que morrer para que as coisas funcionassem como deveriam.

22.7.07

Contraditório

Eu não deixo de me assustar. Cada vez menos. Mas ainda me pego pensando no contraditório. Vez ou outra. Pareço uma adolescente cheia de dúvidas.

Abre parênteses: a minha porção Peter Pan sempre justifica a dúvida desta forma. É cômodo e confortável. Fecha parênteses.

Ainda que tudo caminhe bem, apontando para a certeza da boa escolha, aparece aquele gnomo no meu ombro falando dele. Do contraditório. Ainda que eu não queira. Ainda que eu não acredite em gnomos.

Me forço a pensar nele. No contraditório. Como se precisasse provar pra mim mesma que ele todo é uma bobagem. Ter certeza de que ele não vale nada. Ou de que vale menos que a boa escolha. Bem menos.

Ainda me assusto com ele. O contraditório. Bem menos. E o susto vai se alternando com a certeza. De que a boa escolha vale. Bem mais.

18.7.07

Palhaços do Ártico

Reparem nos sapatos verdes gigantes, que luxo!!!

17.7.07

10 sinais de que ela é o homem da relação

1) Ela se oferece para te pegar em casa, abre a porta do carro e ainda dirige melhor do que você;
2) Paga o teatro, o jantar, o motel e ainda liga no dia seguinte;
3) Depois de uma semana, você a encontra, por acaso, acompanhada de um rapaz 10 anos mais novo que você.
4) Ela é que propõe sexo à três;
5) Ela troca lâmpada queimada, botijão de gás, mangueira da máquina de lavar, pneu do carro e mata barata sem SBP.
6) Ela bebe tanto quanto (ou mais que) você e não se altera. Conversa de igual pra igual com seus amigos sobre futebol, rock’n’roll, cinema, artes marciais e ficção científica;
7) Ela constata que o mecânico te passou a perna no conserto do carro;
8) Depois da segunda, ela vira pro lado, liga a TV e diz que não quer ser incomodada até o fim do capítulo da novela das 8. Ou dorme primeiro;
9) No primeiro desentendimento, ela se nega a discutir a relação;
10) Quando você fala em casamento, ela se finge de surda e te faz uma pergunta sobre o último filme do Woody Allen.

11.7.07

Quem?

Já vou começar pedindo desculpas aos 4 leitores deste blogue por mais um texto parecido com tantos outros. Mas é que este Google Analytics é muito divertido, meu tempo livre é quase nenhum e a criatividade foi comprar cigarros e nunca mais voltou.

Então, mais uma da série “o que essas pessoas vêm fazer aqui, meu deus do céu?”, versão religiosa.

Google Analytics aponta para uma horda de católicos que visitaram este blog. Claro que foi engano (obrigada, senhor!). Eles encontraram este humilde e nada religioso site procurando por outras coisas na net:

- tá, lá vou falar com o meu papa
- a igreja católica no século 21
- igreja condena camisinha + bento
- papa bento fala sobre masturbação
- masturbação bento XVI
- a igreja condena a masturbação?

Ou seja, um monte de menino com verruga na mão veio parar aqui, achando que ia encontrar resposta para sua culpa católica.

Meu brother Analytics me contou que nós, loucos mansos, temos ganhado fama internacional, recebendo visitas de Portugal, de nostros hermanos argentinos-congelados, de gente da Alemanha, dos Estados Unidos, Reino Unido e até de Angola, veja só.

Numa análise mais minusciosa, é possível identificar leitores de cidades como Lisboa e Porto, Miami, Luanda, Stevenage (seja lá onde for), Florianópolis, Recife, São Vicente e Cotia (uau!). Também trabalhamos com um visitante de Glasgow. Ele esteve aqui por vários minutos. Pode ter sido o Alex Kapranos. Ou o Nick McCarthy. Ou o autor do atentado terrorista do aeroporto. Ou apenas mais um perdido que se enganou de endereço.

9.7.07

Gente Louca

Eu tinha trabalhado muito e depois que o sofrimento acabou fui jantar com uma amiga na casa de espetos de sempre.

Optamos pela mesa externa já que estava uma noite agradável. Sentamos, pedimos bebericos e as comidas. Do lado direito uma mesa vazia. Do lado esquerdo um cara degustava alguma coisa que eu não identifiquei, solitário. Ele beirava os 40 anos. Era magro e um pouco grisalho.

Eu contava uma história. Uma história longa cheia de detalhes e reviravoltas. Quem me conhece um pouco sabe e já está acostumado: quando eu engato a segunda na história longa cheia de detalhes e reviravoltas, eu praticamente não paro de falar nunca mais (não é mesmo?). Mas a minha interlocutora estava super interessada. Me interrompia apenas para fazer algumas perguntas, com dúvidas no tempo da narrativa. E eu ia contando, animada. Lá pela metade da história, noto que o solitário também parecia interessado. Ele já era quase parte da minha mesa, e jantava com o corpo inteiro virado para nós, prestando uma atenção incômoda no meu monólogo na nossa conversa. Perdi a concentração por duas ou três vezes. O tal do grisalho começava a me irritar.

Não satisfeito em ouvir histórias alheias, foi só eu fazer uma pausa para um gole do refrigerante, ele se manifestou:
- Com licença!

Ensaiei meu melhor olhar de desprezo e me virei pra ele.
- Desculpa te interromper, mas posso fazer uma pergunta?
Evidentemente que não Acenei positivamente com a cabeça, a contra gosto.
- Eu tenho certeza que você é sagitariana.
- Errou – e me virei de volta à amiga.
- Não é? Ah, então é virginiana!
- Não, não sou – já meio brava.
- Ah, me desculpa. Então, você é louca!

Levei uns dois segundos e meio pra ter certeza do que o infeliz tinha dito, exatamente:
- O quê???
- Você não deixa ela falar! Faz 20 minutos que eu tô aqui e só você fala, olha a cara dela - minha interlocutora estava vermelha feito um caqui e se esborrachava de rir, sem emitir som algum.
- O senhor nem me conhece... Faça o favor de não atrapalhar a minha conversa e se concentre no seu jantar.
- Me fala seu signo?
- Não!
- Por favor!
- Não!!! Não me obrigue a ser deselegante e falar um palavrão. Me deixa em paz, ninguém te chamou aqui na conversa!

Ele virou de volta pra mesa dele e pronunciou algumas palavras pra ele mesmo. Riu sozinho. Parecia se divertir. Nem lembro onde eu parei...

E depois a louca sou eu!

5.7.07

Dormir pra quê?

Eu vivo reclamando dos buracos nas ruas do meu bairro (eu vivo reclamando de quase tudo, na verdade). O asfalto era um lixo completo. Além das crateras em algumas ruas - que ficam maiores em época de chuva - tem aqueles remendos que a prefeitura faz, que viram lombadas no meio do quarteirão. Só na minha rua tem duas dessas. A emenda fica pior que o soneto como diz, com sabedoria absoluta, o ditado. Já tive que gastar vários reais na troca das bandejas do meu um-ponto-zero porque passei com a delicadeza que me é peculiar por um buracão nascido e criado na Pompéia.

Eis que começaram a recapear as ruas daqui. Semana passada, cheguei em casa na madrugada de sexta para sábado e tinha um trambolho no meio da rua raspando o asfalto velho. Eram 3 horas da manhã e eu tinha que levantar as 8.

Neste exato momento existem 3 caminhões gigantescos em frente ao meu prédio. Os três juntos produzem ruídos equivalentes a uns 6 mil e 412 decibéis. Sabe lá que raio de equipamento os homens que asfaltam ruas usam que faz o meu quarto tremer. Isso: tremer! Meu dormitório sacode mais ou menos no nível 3 da escala Richter. E olha que ele fica no sexto andar. Só para lembrar: hoje é quarta-feira! Obrigada, Kassab.

3.7.07

Pequena Tirana

Às vezes eu tenho ímpetos de autoritarismo sobre a minha vida. Sim, porque em 90% do tempo, quem manda em mim é ela. Eu vou só seguindo as ordens que ela me dá: “hora de acordar”. Levanto. “Hora de trabalhar”. Lá vou eu pro Morumbi. “Hora de encontrar as pessoas”. “Hora de tomar cerveja”. E assim, vai... Eu aprendi a ser mais esperta do que ela e de vez em quando faço a vida de tonta, dou uns perdidos, durmo mais um pouco e levanto da cama a hora que EU quero, pago conta atrasada, esqueço de ligar em aniversário de amigo e quase falto em casamento de amiga de infância. Aí ela se rebela e me dá bronca. Me pega pelo colarinho e grita na minha cara: o que você tá pensando de mim? Tá achando que eu sou fácil? Num sou, não.

Boa parte das vezes que ela me desafia assim, eu me finjo de surda e começo a tentar me comunicar com ela na linguagem dos sinais. Funciona. Mas quando a bronca desperta meus instintos mais primitivos (todos os direitos reservados à Roberto Jefferson), eu me transformo nas mais malvadas das déspotas e faço coisas horríveis. Pra colocar as coisas nos seus devidos lugares e mostrar quem manda nessa porra de vida. E foi assim que no meu último momento pequena tirana marquei consulta no oftalmologista, depois de 3 anos, e decidi, finalmente, me matricular num maldito curso de inglês.

Podem aplaudir, assobiar, e não se esqueçam de jogar as minhas sardinhas!