30.7.08

Todo Dia Era Dia de Índio

E então eu descubro aqui, aonde cheguei através desse blog aqui, que se eu fosse filha da Baby Consuelo, meu nome seria...

...Maracangalha Jovelina!

Obrigada, mãe.
Obrigada, pai.
Obrigada, Deus.

*

26.7.08

Divã

- Fale-me mais sobre a sua relação com os livros.
- Acho que sou compulsiva.
- Compulsiva?
- Não sei bem se é uma compulsão. Comecei a ler Madame Bovary três vezes. Mrs. Dalloway peguei em duas ocasiões. Nunca consegui passar da metade de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Mas só tentei três vezes.
- E por quê?
- Parei o primeiro porque me pareceu chato, embora eu saiba que não é. O segundo também. O terceiro... bem, o terceiro também.
- Largou os três e foi ler o quê?
- Não me lembro, mas fui ler outro livro.
- E foi até o fim?
- Sim, terminei. Mas eu não consigo passar por uma banca com mostrador L&PM sem deixar alguns reais com o dono.
- Hum...
- Levei os dois exemplares de Mate-me Por Favor e só dei cabo deles dois anos depois. Recentemente, comprei dois Bukowskis, dois Kerouacs e um Nietzsche. Ganhei a biografia do Tim Maia, do RPM, do Barão Vermelho. Minha mais nova aquisição é um Ian McEwan. Estão todos na estante, me olhando com cara de cachorro em feira de cães: “me leva?”
- E você não levou nenhum deles?
- Não. Tô acabando de ler Europa-Reportagens Apaixonadas.
- Ah, que bom.
- É... tô acabando faz 3 meses...

*

14.7.08

Ontem, Hoje... Amanhã?

Eu não sou mais o que fui.
Eu sou porque fui?
Ou mesmo que não tivesse sido eu seria o que sou?
A quem importa o que eu fui?
A quem importa o que eu sou?

Eu não sinto mais o que sentia.
Eu sinto porque não sentia?
Ou mesmo que tivesse sentido eu sentiria o que sinto?
A quem importa o que eu senti?
A quem importa o que eu sinto?

Eu sou mais o que não fui.
Eu sinto mais o que não sentia.


*

6.7.08

Se Beber, Volte de Táxi

E então o governo decidiu que pra diminuir o número de acidentes de trânsito, ele tem que acabar também com o lazer de um número grande, bem grande de pessoas.

A Lei Seca não é propriamente “seca”. Porque permite que você dirija sob o incrível efeito de até 2 decigramas de álcool por litro de sangue (menos de um chope). E não proíbe ninguém de beber, só veta a direção depois de pelo menos um inocente chopinho.

Eu ainda não tenho uma opinião totalmente formada sobre essa lei. Sei que me vi obrigada a fugir de uma blitz há 15 dias, que fez parar a Avenida Paulista à uma e meia da manhã. Não por nada, nem tinha bebido, mas eu tava com sono e fugi, mesmo (do congestionamento, na verdade). Ontem, meu coração acelerou. Uma da manhã, eu estava voltando para casa do namorado, de novo morrendo de sono, quando avistei aqueles giroflexes na Avenida Ibirapuera. Falei: fodeu! No que ouvi do meu lado, o namorado: fodeu, mesmo! Eu tinha bebido uma garrafinha long neck e meia de cerveja. Isso dá bem mais que 2 dg de álcool por litro de sangue, que não me fazem nem cócegas nos dentes.

Já conversei com médicos que explicaram que apenas um chope ou uma taça de vinho é suficiente para alterar os reflexos de uma pessoa. Mas não os meus. Eles confirmam: isso varia de organismo para organismo; de acordo com o peso, altura e resistência que cada um tem ao álcool. E a minha é boa. Pois ontem me vi prestes a assoprar aquele canudinho chamado bafômetro, perder a carteira de habilitação e pagar MIL reais de multa por causa de uma long neck e meia que não me faz ser capaz de matar nem uma mosca, quanto mais alguém no trânsito. Felizmente, o PM deve ter ido com a minha cara e não me parou.

Eu sou a favor de medidas que visem a tentar diminuir o número de acidentes e de vítimas do trânsito. Mas... pêra lá! Eu, dezenas de pessoas que conheço e tantas outras milhares não são bêbadas loucas que enchem a lata e saem dirigindo por aí. Há que se punir os bêbados e não as pessoas que bebem moderadamente, com responsabilidade, inclusive na hora de dirigir.

Antes desta, existia uma outra lei, cuja tolerância era um pouco maior: 6 decigramas de álcool por litro de sangue, o equivalente a 2 chopes. Não é razoável? E por que nunca ninguém fiscalizou essa lei? Por que nunca se aplicou? Por quê? A fiscalização intensificada desta vez me faz acreditar que, a despeito de tentar diminuir a tragédia, o governo quer mesmo é arrecadar mais.

A saber: no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, o limite é de 8 decigramas de álcool por litro de sangue. Em Buenos Aires, são 5 decigramas. O país mais rígido da Europa é a Noruega, com tolerância igual a do Brasil.

Mas como eu disse antes, ninguém está proibido de beber, e sim de dirigir depois de beber. Então, já que o objetivo não é fazer as pessoas pararem de beber, cadê as alternativas para elas? Eu vou ao bar de táxi? Volto de táxi? Com isso, tenho que reservar pelo menos 50 pilas extras. Se eu sair para dançar, tomar duas cervejas e quiser voltar de madrugada, mando o motorista do Lula me buscar? Cadê os “night buses” de Londres? Ah, não tem. E Metro funcionando até 2 da madrugada? Ah, também não tem. Qual é o objetivo da lei, me$mo?

Há quem defenda a rigidez da medida como forma de educação à população. Conversei com um médico que teve uma irmã morta em um acidente provocado por um bêbado. Ele diz que o choque é positivo. E que depois de um tempo o governo poderia flexibilizar a tolerância mínima. Outro acha que devemos abrir mão um pouquinho da nossa liberdade individual em nome de um bem comum maior. Tudo isso parece lindo. Eu concordo 100% com as teorias. Mas quando me vejo com o coração na boca ao passar por uma blitz por causa de uma long neck e meia, depois de ter trabalhado a semana toda que nem uma camela do Saara e de ter pago todos os meus caros impostos em dia, eu nutro ódio, ódio, ódio pela Lei Seca.


A saber 2: O crítico de gastronomia da Folha de São Paulo, Josimar Melo, escreveu um ótimo artigo sobre o tema: aqui.

*