29.5.08

Possibilidades

E então eu ganhei um livro sobre viagens de um fã - eu juro que eu tenho um e isso é ao mesmo tempo incrível e constrangedor. Chama Europa, Reportagens Apaixonadas e o autor é o criador da revista Viagem e Turismo, o Ronny Hein (hein???). Não é um guia turístico, veja bem. Aliás, passa bem longe disso. É um livro sobre cidades européias, escrito tão lindamente, que eu já devorei Londres, Paris, Mallorca, Veneza e Lisboa e adjacências. Suspirei muitas vezes a cada página lida.

Voltei a fazer contas. Pensei no meu popular 1.0 2001/2001 implorando pra ser vendido e no 2008/2009 na concessionária implorando pra ser meu. Pensei em todos os apartamentos que eu visitei um ano atrás e no gerente da Caixa Econômica esperando a minha visita desde então. Pensei naquela história de levar filho em estádio e na vaga de emprego que um dia eu talvez pretenda do outro lado do oceano. E pensei que talvez eu possa ter 60 anos, ser solteira, morar com a minha mãe, ter um Celta 2009 e o lugar mais distante explorado por mim ser Parati. E me deu uma vontade de chorar...

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27.5.08

Os Feios Mais Lindos do Mundo

Eu tenho um gosto esquisito. Não sei que critérios eu levo em conta para considerar um homem bonito. Apesar de quase sempre concordar com as unanimidades (com exceção do Raí, que, ok, é gostosão, mas nunca ninguém vai me convencer de que seja um homem bonito), eu costumo simpatizar com... hum... esquisitinhos. Homens que não têm um rosto harmonioso, tudo no lugar, boca bonita, nariz bem feitinho, sorriso lindo, olhos perfeitos e quetais. Eu gosto dos defeituosinhos.

De modo que – eu sempre falo “de modo que” - elegi os meus Feios Mais Lindos do Mundo.

1º - Adrian Brody
O ator protagonista de O Pianista ocupa o topo da minha lista, tranqüilamente. Pra mim, ele é o feio mais lindo do mundo.


Ele tem olhos verdes, o que é um belo atrativo. Mas repare no tamanho do nariz, da família do tamanduá-bandeira!
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2º - Guga
Ele é simpático, carismático, tem jeitão de moleque, fez todo mundo chorar quando mal conseguia falar – de tanto chorar – na entrevista coletiva em que anunciou a aposentadoria precoce. Ele é tudo isso. Menos bonito, tenha dó.


Ele é magricelo, aqueles cachinhos são , tem um sorriso esquisito... Mas pra mim só perde pro Pianista na lista dos Feios Mais Lindos do Mundo.
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3º - Sean Penn
Outro narigudo de olhos claros (será fixação?). Ele tem cara de cafajeste e eu costumo preferir os angelicais molecotes. E o nariz grande não combina com a boca pequena. Enfim, ele tem um rosto meio... desarmonioso.


Mas eu gosto.
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4º - Chico Diaz
Outro de olhos reluzentes (Jesus!!!). Eu já gostava dele desde Baile Perfumado, que vi no cinema antes de completar 20 anos – apesar de ele já ter feito uns 20 filmes antes desse. E fui gostando mais, mais, mais...


...a ponto de ele vir parar aqui, no 4º lugar.
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5º - Billy Corgan
Muito prazer, este é o vocalista do Smashing Pumpkins!
Disputou o quarto lugar com o Chico Diaz, mas caiu pra quinta colocação, porque eu me lembrei do brasileiro primeiro. Adota o visual careca e carecas não fazem meu tipo. Ele tem um rosto meio andrógino, que passa bem longe da beleza perfeitinha.


É, eu realmente prefiro os olhos claros.


Ainda passaram pela minha cabeça:
- Daniel Day-Lewis;
- Silvinho, que foi lateral do Corinthians quando eu freqüentava estádio com alguma assiduidade;
- Gamarra, que eu admirava tanto que ficou lindíssimo aos meus olhos;
- Robinho (sim, o da pedalada);
- Marcos, goleiro do Palmeiras;
- Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, que tem cara de moleque - aliás, uma cara bem tortinha.

Faltou alguém?

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21.5.08

Baby Boom

É tanta amiga e gente ao meu redor grávida e tendo filho que eu fico até sugestionada (eu não vou ter um filho agora, que fique claro, pra quem não entender a piada).

- Amor, que ano vai ser a Copa aqui, mesmo? Em 2010?
- Não, Tata. 2014.
- Nossa, tá chegando!
- Tá nada. Faltam 6 anos ainda.
- É que quando o Brasil foi anunciado como sede, eu fiquei pensando que eu queria levar meu filho pra ver um jogo da Copa.
- Filho?
- É, ué. Mas eu pensava que ele ia ter... sei lá... uns 2 anos.
- Tata, é proibida a entrada de crianças de 2 anos no estádio. Só pode a partir de 6 anos.
- Sério?
- É.
- Nossa!!!!!!
- O quê?
- Então, ainda dá tempo, né?


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14.5.08

Barbeiro?

Passantes da Avenida Paulista, em São Paulo, foram surpreendidos nesta terça-feira por um motorista que confundiu a entrada da garagem com uma... escada!



Que fique claro: o motorista é homem, garantem as testemunhas!

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7.5.08

Holidays In The Sun

Tem mil coisas pra dizer sobre Londres, but the time is over. Tudo já voltou a ser como antes na segunda feira e, se eu bem conheço a minha rotina, até eu voltar aqui pra escrever sobre a viagem... De modo que este será o último relato sobre a Terra da Rainha – até porque, convenhamos, ninguém agüenta mais esse assunto...

Tower Bridge

Como Londres é nublada a maior parte do ano, o sol é um evento por lá. Um evento, mesmo! Bastou ele aparecer para as pessoas se jogarem sob ele: nos parques, nas mesas na calçada, ou na própria calçada. Grupos se aglomeram na faixa iluminada pelo astro rei para tomar cerveja, fazer um lanchinho ou jogar conversa fora. Quando tem sol, os britânicos se atrevem até a... sorrir! A fisionomia das pessoas muda. É muito louco! Meus anfitriões me fizeram prestar atenção nisso e é verdade. Todos ficam mais alegres e gentis quando o sol dá as caras.

A previsão do tempo na televisão é algo muito, muito importante, eu percebi. “Amanhã vai fazer sol entre nuvens” e todos comemoram abrindo uma garrafa de vinho!

uma tarde em Bricklane, ao sol que arde em Bricklane

Como é sabido, Londres tem uma infinidade de parques. É lindo ver como os moradores da cidade se apropriam do espaço público como se estivessem... em casa. Afinal, se o espaço é público, é mais ou menos pra isso que ele serve, para as pessoas se apropriarem dele. De modo que eu presenciei cenas belíssimas de gente almoçando na praça, nos parques, fazendo um lanchinho sentado na grama, num banco no meio da rua. Até reunião de trabalho no Green Park eu vi! Juro que essas pessoas aí embaixo faziam anotações em agendas e uma delas até portava um laptop.



Foi nesse dia que, fingindo que eu era londrina – depois de ver a troca de guarda no palácio de Buckingham, como uma turista legítima – resolvi relaxar no Green Park. Existem espreguiçadeiras espalhadas por todo o parque. Mas há quem prefira a grama, à sombra de uma árvore. Escolhi o par de cadeiras que mais me aprazia e me joguei. Mochila em uma cadeira, eu na outra. Abri meu livro e desfrutava tranquilamente de uma tarde de sol, quando um homem se aproxima de mim, com uma máquina pendurada no ombro por uma alça. O diálogo abaixo é absolutamente fiel à realidade:

- Your ticket, ladie.
Tata pêga de surpresa, só conseguiu perguntar:
- For what?
- Chair is not free.
Tata mais surpresa e estupefata ainda, não teve tempo para pensar como perguntava quanto teria que pagar por ela e respondeu:
- Reeeaaally? Sorry, I didn’t know. I’m sorry!

Homem se afasta balançando a cabeça, negativamente. Tata humildemente guarda seu livro, sua garrafa d’água, recolhe sua mochila e vai procurar um pedaço de grama, onde possa ler em paz. E de graça.

Green Park, 13h de uma quarta feira

Por fim, é muito confortável constatar que você pode voltar pra casa de metrô e andar duas quadras e meia até em casa às 11 e meia da noite, sem se preocupar muito se a sua carteira vai continuar dentro da mochila pendurada nas costas quando você chegar. Porque ninguém vai tirar ela de lá. Tem assalto? Tem, como em qualquer lugar do mundo. Um pouco antes de eu chegar, uma amiga da minha anfitriã foi assaltada perto da casa dela. Um sujeito a abordou com uma faca, pediu a bolsa e foi embora. Mas não aproveitou a abordagem pra dar dois tiros na moça, uma facada ou uma porrada na cabeça dela. Levou o que queria e acabou. E essa diferença é importante. As pessoas não vivem tensas porque podem ser roubadas e mortas a qualquer momento na rua, no ônibus, no semáforo. Porque a freqüência dos crimes e a crueldade deles é infinitamente menor. Enfim, não sei se me fiz entender...

pôr-do-sol, visto da Waterloo Bridge, às 20h37

Me parece que Londres poderia ser uma cidade embrutecedora também, como São Paulo é para mim. Mas voltei de lá convencida de que é possível evitar esse processo terrível com atitudes simples de gentileza, de civilidade, de cidadania. A nossa cidade funcionaria muito melhor, não obstante a falta de assistência do poder público. Voltei disposta a resistir ao embrutecimento, ao estresse, à loucura que os congestionamentos provocam, ao mau humor e à falta de educação das pessoas praticando pequenos gestos. Pode parecer piegas e polyana demais, mas... você já deu um sorriso hoje? Deu passagem para o motorista que ligou a seta do carro e pretendia entrar na sua faixa? Quantas vezes você acionou a buzina? Deu bom dia para o seu vizinho no elevador? Tratou bem o garçom que te atendeu no restaurante? E a moça do caixa do supermercado?

Experimente!

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5.5.08

This Is Radio Clash

Música e Londres são quase sinônimos. Ou será que foram meus olhos e ouvidos viciados que me deram essa impressão? 90% dos jovens passam a vida londrina com fones nos ouvidos, segundo pesquisa feita por mim mesma. No ônibus, no metrô, na bicicleta, nas ruas. É tanta gente com fone no ouvido que me chamou a atenção. O que eles ouvem? Não faço a menor idéia, mas a julgar pelos shows anunciados no The London Paper - o jornal que te entregam na rua - o róque domina.

Sabe aquelas bandas inglesas de quem você nunca ouviu falar, que pululam do nada na mídia daqui? Elas surgem nos palcos de pubs de Old Street, Liverpool Street, Camden Town e cercanias, com entradas que giram em torno de 5 pounds - tipo de graça. Eu gostaria muito, muito de ter presenciado o nascimento de algum fenômeno musical da última semana, mas não me foi possível. Isso porque meus anfitriões e benhê não são tão afeitos a novidades musicais e eu achei melhor poupá-los da minha sede por elas – mesmo estando em Londres.

Isso significa dizer que eu perdi um festival bem bacana. O Camden Crawl acontece uma vez por ano, na sexta e no sábado – exatamente no fim de semana em que eu habitava a cidade. Todos – ou quase todos – os Pubs de Camden participam. Várias bandas são convidadas e tocam nesses Pubs. Pagando a bagatela de 40 pounds (cerca de 130 reais) você ganha passe livre para todos os shows. Dos milhares de artistas que participaram do Camden Crawl eu conhecia apenas o cara do Babyshambles – que não é o Pete Doherty, que estava (ainda está?) enjaulado - o Boy Kill Boy e os meninos do The Fratellis, de quem importei um CD e que lamentei bastante não ver.

fila em frente a um pub em Camden, às 23h do sábado

Também cogitei ir a um show do The Kills, na minha última noite londrina, mas não rolou.
NOTA: o guitarrista do The Kills é o namorado da Kate Moss (adivinha quem tava na capa do London Paper no dia seguinte ao show?).

Bem, como não poderia deixar de ser, fomos ver um showzinho por lá: os suecos do The Hives, que tocaram no Brixton Academy no dia 18 de abril, uma sexta feira. É estranho chegar a um show de róque às 19h, com o sol brilhando. O Brixton estava lotado. E foi bão! Não dava pra ir até lá e não assistir a pelo menos um showzinho!


Amy Winehouse é rainha em Londres. Mais rainha que a Rainha! Ela está em todos os lugares: toca no Mc Donald’s, no Pub, na loja de roupas, na TV e estampa capas de jornais. Eu fui ao Pub preferido dela - dizem. O original pegou fogo no incêndio de fevereiro em Camden e hoje ostenta uma faixa de solidariedade dos freqüentadores.

"Camden Town is burning down"

Os donos “transferiram” o Hawley Arms para um outro lugar, em Angel. Dizem que é o bar favorito de artistas hypados como Ms. Winehouse e os caras do Razorlight. Perguntei pro barman se os rapazes do The Horrors costumavam tocar lá. Sem pestanejar, ele respondeu: No, they use to drink here! Nas paredes, mais de uma dúzia de fotos autografadas dos freqüentadores do estabelecimento.



Eu já disse que eu amei Camden – reeaaally? – de paixão e toda sua fauna diversificada? Lojas, camelôs, gente diferente e colorida. E eu já disse que andava por lá muito atenta, de dia ou de noite, porque eu poderia ver a Amy passando na rua a qualquer momento?

(PAUSA PARA AS GARGALHADAS)


Eu tinha raiva quando eu lia no jornal que ela tinha estado lá na mesma noite que eu e eu não a vi! Pensava: droga, perdi! Mas aí, quando eu me atentava ao horário em que ela armou algum barraco, eu entendia: enquanto Amy barbarizava em Camden, cuspindo em um rapaz e batendo em outro, eu dormia sob meu edredon, quentinha em casa, às 4 da manhã (adivinha quem estampou a capa do London Paper no dia seguinte a esse?).

A Inglaterra produz uma nova Amy Winehouse por semana. Mas, sem dúvida, a garota sensação por lá até o mês passado (é importante datar, considerando a velocidade das descobertas musicais) é Adele. Ouça com seus próprios ouvidos.

Em tempo: comprei, um dia antes do lançamento, o CD de estréia do The Last Shadow Puppets. É o novo projeto de Alex Turner, vocalista do... er... Arctic Monkeys, com o Miles Kane do The Rascals. Clica aqui , ouve The Age of The Understatement e vê o clipe dela. Recomendo!

É irritante você ler todos os dias que algum festival de verão anunciou mais uma banda. Sendo que você gosta desta banda. E gostaria muito de ir a algum desses malditos festivais pra ver setecentas bandas em 3 dias. E mora em São Paulo. E aqui faz frio em junho.

By the way, na França, durante um percurso de carro, ouvi por cerca de uma hora uma rádio chamada Le Mouv. Flagrei – e ria à toa - uma seqüência incrível de Clash, Phoenix, Keane, Arctic Monkeys, Panic At The Disco!, The Killers, Editors, Razorlight e Radio 4, mesclados com bandas que cantam em francês. Tá bom pra você?


(continua só mais uma vez)

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2.5.08

London Fashion Week

A democracia estética em Londres é total. Embora exista, claro, “a roupa” ou “o modelo” da moda, as pessoas se vestem como bem entendem. Isso significa combinações bem esdrúxulas de cores, estampas e estilos. Os cabelos são das mais variadas cores. E o incrível é que ninguém está nem aí para o modo como as pessoas se apresentam. O que quer dizer que você pode sair na rua travestida de Cleópatra, que ninguém vai olhar para você.

escadaria do British Museum

Mas como eu disse, existe uma moda. Assim como por aqui, a onda masculina descolada é vestir calça skinny, aquele jeans justo no corpo até o tornozelo, com a qual o meu anfitrião – adepto das calças “de macho” – não se conforma. Rapazes costumam combiná-lo com tênis All Star ou botas. Na moda feminina, ninguém ganha das galochas estampadas, uma febre que também já chegou por aqui. Bastou Kate Moss ser fotografada vestindo ou calçando algo, que vira moda. Há quem diga que as galochas estampadas foram vistas primeiro nos pés dela.
Camden Town Station

O assustador é constatar que a maldita moda anos 80 não vai embora nunca mais. E nas vitrines é possível encontrar atrocidades como esta:

lembra do Reebook que você teve aos 12 anos?

As mulheres vivem maquiadas. Muito maquiadas, não importa a hora do dia. 10h da manhã e é um festival de blush e sombras coloridas. Inclusive – ou sobretudo – as muçulmanas, que andam com aqueles lenços na cabeça e só mostram o rosto. Dá um pouco de aflição de tanta meleca na cara tão cedo do dia.
Os cabelos dos rapazes são quase sempre desgrenhados, estilo rocker, descuidada ou propositalmente. Piercings também estão lá para dar e vender. Estranho é o jovem que não tenha pelo menos um no corpo. Os ingleses são lindos! Nunca vi uma concentração tão grande de olhos claros em apenas um vagão de metrô. Uma beleza! Mas como eu disse, ninguém olha pra você, nem adianta se animar.

E anote o que eu estou dizendo: no verão, a moda por aqui para proteger os olhos do sol vai ser isso aí.

e não se trata de festa de casamento

O povo de lá é meio andrógino, percepção que proporcionou pelo menos uma cena engraçadíssima e um tanto embaraçosa. Eu e minha companheira de viagem – sim, eu tinha uma, carinhosamente chamada por mim de benhê – procurávamos um banheiro em algum estabelecimento da Oxford Street. Entramos num Starbucks. Na porta do banheiro feminino, um claro símbolo de... banheiro feminino. Benhê abre a porta e se depara com um ser humano se olhando no espelho. Num ímpeto, pára, arregala os olhos, volta um passo e olha para a porta, querendo se certificar de que tinha entrado no banheiro certo. Pergunto pra ela: meninas? E a moça de cabelos curtíssimos, ajeitando as costeletas em frente ao espelho, responde sorridente e com a voz mais doce do mundo, como se tivesse entendido meu português: yes, ladies!

(ai... continua)

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