26.2.08

De Vez em Quando

[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus... como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!

Caio Fernando Abreu

*

22.2.08

Nada a Declarar

Não existe nada pior do que entrevistar alguém que não está disposto a dar entrevista. Você faz a pergunta mais bem elaborada do mundo e o sujeito reponde "sim", "não", "não sei", "pergunta pra fulano". Um saco.

Mas esta entrevista de Zeca Pagodinho à Folha de S.P. ficou divertida. Atente para a resposta à primeira pergunta. A parte que eu mais gostei foi "minha vida é que atrapalha a minha cerveja". Ge-ni-al!


FOLHA - Como será seu novo disco?
ZECA PAGODINHO - Ué, de samba. (reeeeeaaaaally???)
FOLHA - Isso eu já imaginava...
PAGODINHO - É o que faço sempre, com Zé Roberto, Arlindo, Almir Guineto, Monarco...

FOLHA - Você compôs algo?
PAGODINHO - Deixo com a rapaziada, porque é uma caderneta de poupancinha pra eles. Tem um pessoal que tá lá atrás, precisando arrumar um qualquer.

FOLHA - Você fez 49 anos agora. Com se sente quase cinqüentão?
PAGODINHO - Tem muita gente que eu conheci que não conseguiu chegar nem a 30 porque ficou doente, mataram, sumiu.

FOLHA - O que acha do Zé da Feira [Eri Johnson], o sambista de "Duas Caras" inspirado em você?
PAGODINHO - As dificuldades de subir na carreira têm a ver comigo. É um cara que lutou, teve dificuldades, o vício da bebida, conheci várias pessoas assim.

FOLHA - O fato de ele ser alcoólatra não incomoda?
PAGODINHO - Mas eu não sou alcoólatra, não ando caído de bobeira na rua. Ele é inspirado, porra, não é o Zeca Pagodinho.

FOLHA - A cerveja não atrapalha a sua vida em nenhum momento?
PAGODINHO - Minha vida é que atrapalha a minha cerveja. Quando tô bebendo, tem sempre alguém pra falar comigo.

FOLHA - Você se irrita por sempre ser procurado para falar de cerveja?
PAGODINHO - Não, isso é porque tô no auge. Se tivesse lá embaixo, ninguém lembrava de mim.

FOLHA - O que pensa sobre o projeto de tornar crime dirigir após tomar mais de duas latas de cerveja?
PAGODINHO - É certo. Fizemos o bloco da Cachaça; a letra do samba dizia que "volante com cachaça não combina, sou um cachaça, mas não sou burro". Fiz um outdoor "Se beber, vá de táxi". Já tão achando que levei uma nota dos táxis, do Detran, não levei porra nenhuma, levei sim uma luta pela vida.

FOLHA - Você dirige após beber?
PAGODINHO - Não, nem antes.

FOLHA - Você não dirige?
PAGODINHO - É porque tô renovando minha carteira, nunca dá, e pra não ficar me aporrinhando vou andando a pé, tem motorista, entro em qualquer carro, "me deixa ali cumpade".

FOLHA - Continua irritado com o ministro da Saúde [que propôs que artistas não anunciassem bebida]?
PAGODINHO - Não, não é um cara de bobeira não, sabe o que faz. Mas tem que ter um projeto mais de educação do que punição. Aí vai prender, e qualquer dia essa porra vai virar só grade.

FOLHA - E a reclamação dos gays que não gostaram da tradução de "happy hour" para "hora alegre" em seu comercial da Brahma?
PAGODINHO - Falei pros caras que ia dar problema, mas eles mandam. Não tinha a intenção de ofender. Eu me dou bem com todo mundo, tem uma porrada de veado que vem aqui em casa, cada um na sua, eles pra lá, eu pra cá. Quem quer dar dá, quem quer comer come, cada um viva a sua vida.


*

18.2.08

The Book is On the Table

Mais ou menos nesta mesma época do ano passado eu ganhei um simpático ultimato do sujeito que é pago para mandar em todos os outros lá na firma: No ano que vem, se você não estiver estudando inglês, você não vai fazer o Oscar.

Veja bem, não se trata de ir até o mundo glamouroso de Los Angeles, vestir meu mais lindo modelito e disputar com repórteres do mundo inteiro um espaço no cercadinho que margeia o tapete vermelho do Teatro Kodak, para tentar obter algumas palavras do George Clooney.

“Fazer o Oscar” compreende passar quase 4 horas fechada num estúdio em São Paulo, gastar saliva até secar a boca, anunciar os vencedores e destacar alguma coisa dos discursos a partir de um áudio que muitas vezes já tem tradução para o português.

Mas eu sou obediente e no semestre seguinte me matriculei num curso. Todo mundo ficou orgulhoso de mim, inclusive eu mesma. A única dificuldade era o horário das aulas: 8 horas da madrugada manhã. Não foram poucas as vezes que faltei ou acordei atrasada. De modo que a frase que disse com mais freqüência durante o semestre foi “Sorry for my delay!”, adentrando a sala ocupada por outros 3 alunos, no meio do exercício de listening.

Findo o estágio, com a devida aprovação, implorei na secretaria por um horário de gente pra minha turma no semestre seguinte. E na semana passada, liguei para saber do início das aulas. Eu poderia escolher entre 3 turmas. Das 15h às 16h, das 20h às 21h – períodos em que estou amarrada no tronco com uma chibata pronta para estalar nas minhas costas – e das 8h às 9h da manhã. Ainda insisti, com voz de choro: Não é possível que ninguém queira estudar no incrível horário das 13h às 14h!!!

Não, ninguém queria. A moça da secretaria, comovida, tentava me explicar que tem um rapaz que é publicitário e que almoça das 14h às 15h e que por isso a turma seria nesse horário. E que o pessoal que trabalha em horário comercial prefere das 20h às 21h. E que ela se empenhou em perguntar para todos eles, um por um, se não gostariam de estudar em outro horário, por minha causa... Ai, quase chorei. Sério. De novo o inferno de acordar de madrugada e tentar articular frases e conjugar verbos neste maldito idioma num horário em que eu mal falo português.

Odeio, odeio essas pessoas que trabalham e almoçam em horários estranhos!

13.2.08

Novecentos Reais

eu: é por isso que esse país não vai pra frente
Gui: pq?
eu: porque existem centenas de milhares de pessoas que comprariam ingresso com preço pornográfico pra ver o bob dylan
Gui: escrevi sobre isso no blog
eu: eu queria ser capaz de liderar uma rebelião. o via funchal ficaria às moscas.
queria ver se o valor não cairia
eu: li o texto até a metade
nem o arctic monkeys me faria pagar esse preço. é ultrajante.
é falta de vergonha na cara desses caras. tenha dó. eu moro no brasil!
eu: nada mais a declarar? rs...
Gui: bicho
não tem o que falar
é o que eu digo no 1º parágrafo
vai do ultrajante ao criminoso
mas fazer o quê?
eu: não ir!!!!!!
Gui: eu sou uma daquelas almas para quem o rock é tudo
eu: ah, meu!
Gui: não ver o bob? e me arrepender pro resto da vida?
eu e a kat tinhamos desistido de ir
até vermos num blog aí o set list
bicho, ela chorou
CHOROU
pense que você se dedica a alguém religiosamente há quase 20 anos
não tem o que fazer, cara
dividimos no cartão e dá-lhe miojo
eu: se eu fosse um comunista da década de 60, eu diria, sem pestanejar: ALIENAÇÃO!
parecido com o que ocorre com a religião. sorry!
Gui: diga o que quiser
não tô pagando 250 pra ver o killers
é o bob
eu: ok
Gui: no panteão da minha vida
eu: ok
Gui: o primeiro escalão é:
stones, beatles, bob, hendrix, stooges, velvet
eu sou capaz de matar pra ver esse povo
eu: ok. não há mais discussão.
amém, pastor!
Gui: ótimo, CAMARADA
eu: hahahahahahaha
Gui: depois eu te conto como foi
eu: combinado.
Gui: vá ver o show dos imperdíveis, vá
HAHAHAHAHAHA
eu: por imperdíveis 20 reais
enfim.... agora vou me preparar para seguir para o meu trabalho imperdível.
Gui: hahaha
vai lá, gatona
ainda assim te adoro

*

10.2.08

Saudade

por Pedro Juan Gutiérrez, em Trilogia Suja de Havana


“Eu era então um sujeito perseguido pela saudade. Sempre fora, e não sabia como me desligar da saudade e viver tranqüilamente.
Ainda não aprendi. E desconfio que não aprenderei nunca. Pelo menos já sei algo valioso: é impossível me desligar da memória. É impossível se desligar daquilo que se amou.
Tudo isso estará sempre junto conosco. Sempre teremos tanto o desejo de refazer o bom da vida como o de esquecer e destruir a lembrança do mau. Apagar as maldades que cometemos, desfazer a recordação das pessoas que nos prejudicaram, remover as tristezas e as épocas de infelicidade.
É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa que nos dispare para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. E isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar de nossa fatia na festa.”

*

8.2.08

Incompetência

Eu queria falar sobre o show da Ana Cañas que eu vi na semana passada. Sobre Em Paris, Desejo e Reparação (que música irritante!)e Mallu Magalhães. Queria dizer que não ouço nada de mais no Klaxons. Que o Vanguart é legal, mas não me faz pirar. Sobre Flores Partidas, do Jim Jarmusch, que revejo agora na TV e me faz refletir (de novo) sobre a solidão e a incapacidade emocional das pessoas. Adoro o Bill Murray. Poderia falar até do livro do Zuenir Ventura que me serve de base para uma série legal que eu tô montando.

Não dá. Não consigo.

Eu queria dizer que às vezes tenho uma saudade que até dói, mas não sei se é amor ou ego. E que quando isso acontece torço com força pra bolinha vermelha ficar verde. Ela nunca fica e, mesmo se ficasse, eu não saberia o que fazer com aquilo.

Poderia versar sobre a falta que eu sinto nem sei do quê. Poderia me prolongar sobre esse buraco e escrever sobre as pessoas que consideram bonito, nobre e verdadeiro abrir a guarda e escancarar suas fraquezas pra quem quiser notá-las. E que talvez ficassem orgulhosas de ler sobre isso.

Não consigo.

Talvez confessar que toda maldita vez que relembro das pessoas que acham bonito escancarar as fraquezas, choro copiosamente, sem entender nada.
Dizer que a frustração é um dos piores sentimentos do mundo.
Que minha serenidade continua oscilando e isso me enlouquece.
Que essa conversa de “carcaça” e “auto-boicote” já me encheu o saco.
E que eu desejo mais que tudo que um dia eu seja capaz de voltar a pensar com o coração, por mais brega que isso possa soar. E que eu deixe de me sentir ridícula e vulnerável por soar brega.

Que merda!

2.2.08

Amor demais

Não sei se é impressão minha, mas acho essa geração de jovens melada demais.

Mesmo os meninos de 20 e poucos anos que não se deixaram engolir pela onda e repudiam a designação emo, são demasiadamente emotivos - à exceção dos que espancam empregadas domésticas no Rio. Já viu como eles se amam? Eles aaaaaaaaamam o mundo inteiro. As meninas foram apresentadas na festa de sábado passado e na semana seguinte trocam 36 recados meigos no Orkut. Pronto, já estão se amando!

São tão compreensivinhos, carinhosinhos. E de uma passividade irritante. Sinto um pouco de falta de rebeldia nessa gente. Cadê aquela sensação de que está tudo errado? Cadê aquela vontade de mudar o mundo? Os discursos inflamados nas mesas de bar? Nenhum resquício da filosofia punk do “faça você mesmo”? Nada. Eles fazem tudo igual. Não fazem nada. Mas sempre com muuuuuito amor.

Aquele ar depressivo, dark, deixou de ter charme. Saiu de moda. Ser hype agora é sorrir para os quatro ventos. É dizer que AAAMA os seus amigos – mesmo os de uma semana – AAAMA aquele filme, AAAMA aquela música, AAAMA, AAAMA...

Eu não tenho paciência. Me cansa.
Será que eles sabem o quão superficial é isso? Ou sou eu que tô ficando velha e ranzinza?

***

Er... Hoje era dia de escrever sobre Carnaval?

*