Eu tinha um filme importante pra ver pela manhã, mas não pude comparecer porque havia reunião na firma. Acordei as 8 e meia da madrugada, tentei fazer cara de gente que já estava desperta desde as 5h30 e fui
Ao chegar, percebo que não existe a menor pré-disposição dos envolvidos na reunião de mexer o dedo mindinho, quanto mais de levantar as bundas da cadeira e se dirigir à sala. Consulto a direção:
- Vai ter a reunião das 10 horas, né?
- 10 horas? A reunião é ao meio dia.
Que ótimo! É a resposta que todo ser humano que odeia acordar cedo passa a vida inteira querendo ouvir. Que você poderia ter dormido duas horas a mais. Tratei, então, de arrumar coisas que me ocupassem por aquelas duas horas inúteis no ambiente de trabalho, tais como:
- pagar impostos pela internet;
- marcar consulta com um pneumologista para tentar, quem sabe, parar de fumar;
- conhecer áreas pouco exploradas no conglomerado de comunicação aonde eu trabalho há 3 anos;
- filar bóia no evento realizado no saguão;
- conhecer celebridades da televisão;
- outras tarefas tão interessantes quanto estas.
Faltavam 10 minutos para o meio dia quando ouço meu santo nome ser solicitado na sala da direção da firma:
- Olha, os planos mudaram um pouco, de modo que zzzzzzzzzzzz...
Zzzzzzzzzzz...
Zzzzzzzzzzz...
...vamos cancelar a reunião que estava marcada para hoje, então.
-
Que ótimo! É a resposta que todo ser humano que odeia acordar cedo E tinha um filme importante para assistir naquela manhã passa a vida inteira querendo ouvir. Que você poderia ter dormido 2 horas a mais e ter ido ao cinema.
O jeito foi encarar o refeitório da firma, que, justiça seja feita, não é dos piores. Dependendo do dia, é até bom. Para almoçar no refeitório, o santo funcionário precisa apresentar sua funcional. Objeto que, por uma razão ainda misteriosa, desapareceu da minha bolsa. Eu tinha dormido pouco, perdido um filme, uma reunião e não podia nem alimentar meus restos mortais. Um santo colega me salvou e pagou o almoço, prova de que, obrigada deus, ainda existem pessoas com bom coração
Num dia como este, eu já esperava um cardápio de sardinha refogada com jiló e pimentões ao molho de maracujá - tudo o que eu odeio junto. Mas não. Consegui ingerir alguma quantidade de penne ao sugo e me mandei para o batente. Às 4 da tarde eu já estava estafada. Porque pra quem chegou às 10 da manhã já é quase o fim do expediente. E o meu só terminava dali a 6 horas.
Por telefone, uma amiga carioca que estava em São Paulo me dizia que queria sair. Também por telefone, o namorado agilizava os convidados, marcava o lugar e me recomendava: sai daí correndo às 22h e se manda pra lá. Não havia nada que eu desejasse mais naquele momento.
Me lembrei do carro estacionado a uma distância monumental da firma. Teria de andar sozinha, à noite, por ruas escuras e mal assombradas até chegar a ele. Resolvi buscá-lo enquanto o sol ainda brilhava e me arriscar num duelo corporal por uma vaga nas cercanias. Depois de dar 4 voltas no quarteirão com alguma dificuldade de locomoção do popular 1.0, encontrei a vaga dos sonhos. E pensei: nada na vida pode ser assim tão ruim. O dia tá uma merda, mas alguma coisa tinha de dar certo. Convenhamos, eu merecia uma vaga VIP.
Mas é claro que podia. Como o carro tava mais pesado do que o normal, fui, assim como quem não quer encontrar nada, checar os pneus. E aí... Ai, meu santo crispim dos dias fodidos... Fui completamente invadida por uma indescritível vontade de:
a) sentar na calçada e chorar;
b) pegar o primeiro táxi que passasse, ir pra casa e não sair de lá nunca mais;
c) possuir uma granada capaz de fazer o mundo acabar em uma tirada de pino;
d) saber trocar um pneu furado;
e) gritar todos os palavrões que eu conheço em apenas 32 segundos.
Optei pela quinta alternativa, respirei e voltei para a firma. Nas 3 horas seguintes, estaria impossibilitada de deixar o complexo de comunicação, amarrada à minha bola de ferro. E queria morrer. Por telefone, avisei o namorado de que possivelmente me atrasaria para o encontro. Que talvez não fosse ao encontro. E, quem sabe, matasse todas as pessoas da redação. E ele foi voando me salvar, com suas asinhas de anjo, sua chave de roda e o telefone do seguro. Às 22h em ponto saí correndo do inferno e me mandei pra lá. Ninguém morreu nesta noite. Cheguei em casa com a integridade física preservada. A moral? Marromêno.
Nunca duvide de um dia de merda.
Enfim, férias...
*