30.11.07

O Haver

Tem dias que a confusão é tanta, que as palavras somem.
Os dedos falham, as teclas desaparecem.

Nesses dias, eu recorro aos gênios das palavras.
Porque eles já disseram tudo o que eu queria.

Se fosse eu, ficaria infantil.
Mas como foram eles, é genial.

(...)
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
(...)
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.


Vinícus de Moraes
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25.11.07

Strogonoficamente Sensível

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Ah, as maravilhas do rádio...





Por Deus, que esta seja uma semana alegre!

Amém!
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22.11.07

Antes Tarde...

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Hoje é Dia do Músico!
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Vai Ser Triste na Vida

Eu não nasci pra ser triste na vida. Não nasci. Não foi essa a missão que me deram. Não foi pra isso que vim ao mundo. O anjo torto disse pra eu ser bagunçada na vida. Ele é torto, mas tinha razão: eu sou bagunçada. Mas triste, não.

Então, por quê? Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, e blá blá blá... Não tinha!

Então, por quê? Por que esse mau humor, essa magreza, esse desânimo, essa tristeza. Por quê?

Eu vim ao mundo para ser inteligente. Para me tornar um ser humano melhor e não para afundar na ignorância ou planar na superfície. Nem para conviver com cara feia e energia ruim de quem eu mal conheço. Eu não!

Talvez eu não tenha nascido para ser brilhante na vida. Mas triste? Triste, não.

Veja bem. Preste atenção. Não se esqueça.
Esta é a última chance de me convencer de que a felicidade mora ali, ainda que só uma porção pequena dela esteja escondida debaixo do tapete.

Se eu não encontrar a bendita por ali, tchau e bença. Porque eu não nasci pra ser triste na vida. Eu não!

18.11.07

Dedo Podre (amostra)

ou Gosto Padrão
ou ainda Obviedades da Vida



Eu precisava ouvir música boa – a que eu acho boa, veja bem.
São Paulo guarda uma dúzia de lugares que me apetecem, mas eu escolho sempre o mesmo. A discotecagem é aprazível e as bandas que se apresentam lá também.

Encostei naquele canto de sempre, esperando uma amiga. Casa cheia, umas 750 400 pessoas se amontoavam espalhavam entre balcão, sofás, pista, mesas e cadeiras. Meus olhos míopes – porém equipados com lentes corretivas obrigatórias – varreram o salão, numa panorâmica, e pararam em um rapaz. Estava sentado em uma mesa cheia de pessoas. Com outros rapazes e algumas moças. Olhou pra cá, olhou pra lá. Voltou a olhar pra cá. Parecia interessante. Levantou, passou por mim, foi ao banheiro. Saiu do banheiro, passou por mim, voltou à mesa – deus, quem inventou a barba?

Quando eu comecei a gostar dessa dinâmica, a banda subiu ao palco e eu descobri - o óbvio?
O rapaz é músico.

11.11.07

Norwegian Wood

Nessas horas, eu me esforçava em analisar o que estava acontecendo no meu coração, enquanto admirava as partículas de luz flutuando nesse espaço silencioso. O que afinal eu procurava? E o que afinal as pessoas procuravam em mim? Eu era incapaz de obter uma resposta conclusiva. Às vezes, estendia a mão em direção às partículas de luz flutuando no ar, mas as pontas dos meus dedos não tocavam em nada.

- Haruki Murakami

6.11.07

It's Raining Man

Eu garimpava coisiquinhas fofas de menina numa dessas lojas de quinquilharia que vendem brinquedos, artigos de papelaria, bijuteria, velas aromatizadas, algumas roupas e toda a sorte de tranqueiras. A loja era bem organizada: artigos de menina do lado esquerdo, os destinados aos moleques do lado direito.

Eu investigava todas as divisórias de uma carteira da Betty Boop, quando adentra ao estabelecimento uma mulher com seu filho, de uns 7 anos de idade. A mãe chama a atenção do moleque para um batman qualquer. O menino aponta para o lado esquerdo e, sem cerimônia, anuncia:

- Mãe, eu gostei mais dos brinquedos deste lado.

E assim, diante dos meus olhos e ouvidos, mais um gay saía do armário.

5.11.07

Almoça Junto Todo Dia

Família é uma coisa engraçada. Tem sempre aquele tio piadista, a prima perua, o vô que gosta mais de um neto específico, um sobrinho preferido e alguém que fala mal de todos os anteriores.

A minha é pequena. E distante. Cada um mora em uma cidade e raramente se encontra. À exceção de eventos especiais – falecimentos e/ou casamentos. Ou seja, a minha família é igualzinha a várias que você conhece.

A última vez que a família se encontrou assim, em massa, foi num velório há quase 3 anos. Todos os primos se juntaram. Falaram um punhado de bobagens e morreram de rir a noite toda. Neste feriado, por ocasião do aniversário de uma prima que funciona como uma espécie de elo entre todos os integrantes espalhados pelo mundo, todos voltaram a se reunir.

Uma irmã. Um tio, a mulher do tio. Uma tia. Cinco primos de primeiro grau. Um marido da prima. Duas primas tortas. Cinco comadres da tia. E SEIS pestes crianças. Todas correndo pela casa - enorme e cheia de corredores -, andando de bicicleta e correndo na lama e jogando bola e jogando meus chinelos pela janela da sala. Duas delas, gêmeas. Idênticas.

Almoço nababesco. E muita cerveja. MUITA. Depois dela(s), os primos se reuniram em volta da mesa para uma partida de cartas. Cada um com uma criança no colo - filho ou não.

O primo fala com o pai, que estava deitado no sofá e relativamente embriagado, a respeito de uma das gêmeas, que não é filha dele. O diálogo a seguir é verídico e pode ser comprovado por dezenas de testemunhas oculares:

- Pai, esta é a B1.
- O quê?
- A B1, pai, lembra? Das Bananas de Pijamas?
- Ah, lembro. Mas por que B1?
- Ué, porque a B2 é aquela ali – aponta a irmã gêmea.
Pai arregala os olhões azuis:
- Ah, são duas?????