28.6.07

Ira

O jornal grita na minha cara: Cinco jovens de classe média do Rio espancam uma empregada doméstica na rua

O fato já é um absurdo sem tamanho. Mas sempre pode piorar. Primeiro, um dos moleques tenta amenizar a cagada, dizendo que achou que a mulher fosse uma prostituta. Como se toda prostituta tivesse nascido para apanhar de cinco playboys. Como se fosse óbvio que toda prostituta merece umas porradas.
Mas piorou ainda mais. Eis que um homem que se diz microempresário, chamado Ludovico Ramalho Bruno, pai de um dos marginaizinhos, dá entrevista e diz o seguinte, a respeito do filho dele e do resto do bando: “Prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos... Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses? Existem crimes piores."

A declaração descabida explica a atitude do filho dele. O problema dessa gente é que eles realmente acreditam que quem tem dinheiro não precisa ter valores, nem respeito pelo outro, nem porra nenhuma. Pode fazer o que bem quiser. Está acima das regras e da lei, pelo simples fato de ter dinheiro. E os filhos se tornam escrotos como os pais. A declaração desse infeliz me faz lembrar do estorvo máximo da política deste país. Alguém que há tempos fez uma afirmação desastrada e se tornou célebre: Estupra, mas não mata.

Nem toda a palhaçada do mundo no Conselho de Ética do Senado com Renan Calheiros às voltas com pensão pra mãe de filho fora do casamento, bois e notas frias, nem João Hélio arrastado preso ao carro, nem nenhum fato mais revoltante de que se tem notícia me transtornou mais, me despertou mais ira do que a entrevista deste homem.

Hoje, ouvi a entrevista que Sirley Carvalho deu lá na firma. Ela conta, chorando, que o filho pequeno foi falar com ela, logo que ela chegou em casa. Quando Sirley contou a ele o que tinha acontecido, o menino disse que ia bater nos meninos que a agrediram. A mulher diz que tranqüilizou o filho, dizendo que não fizesse aquilo, que não podia bater nas pessoas, porque o que os marginaizinhos fizeram era errado e ele não deveria fazer o mesmo.

A comparação dos dois discursos, tão diametralmente opostos, tão distintos, é suficiente para concluir o óbvio: classe social não determina, nunca determinou e nunca vai determinar valores, educação e nem caráter de ninguém. É isso que falta a muita, muita gente entender e praticar, sobretudo à maioria dos abastados nojentos deste país. Que acreditam que porque têm dinheiro são melhores do que os que não pertencem a sua classe.

Eu espero, com toda a minha força, que estes cinco animais fiquem bastante tempo encarcerados, amontoados com milhares de detentos numa cela. Lá talvez eles aprendam a ter respeito pelas pessoas. Na marra. Do pior jeito possível.

Mais sobre o caso, eu encontrei aqui. É perfeito!

2 comentários:

Lica disse...

Falou bonito, Tata, e eu assino embaixo! Acrescento, ainda, que há um agravante com relação a eles: fizeram isso de graça, sem necessidade! Pura maldade, crueldade. Todos universitários (futuros advogados, administradores, etc), porém não aprenderam nada sobre respeito ao próximo... imagina o tipo de profissionais e pessoas que serão?! Merecem, sim, ser penalizados!!!

Anônimo disse...

Tata, infelizmente essa barbárie vem de longa data...

Um grande amigo meu, biólogo, e professor em um renomado colégio particular paulistano, durante uma de suas aulas enfrentou alguns, digamos, "probleminhas disciplinares" com seus alunos. Ao admoestá-los, ouviu a seguinte resposta: "Eu não tenho que aprender essa merda aí não, cara! Meu pai é empresário e eu vou herdar a empresa dele. Então eu só tenho que aprender a MANDAR!"

Dizer mais o quê? :-(