29.10.09

C'est la vie

Numa entrevista, perguntei a atriz Silvia Lourenço a quê o amor não resiste. E desde então a resposta martela a minha cabeça, vai e volta na minha memória freqüentemente: "o amor não resiste ao descompasso", ela me disse.

É estranho, mas eu já sabia qual seria o fim. Como seria o fim. E o motivo pelo qual ele chegaria.

É doloroso demais desfazer os laços. Desfazer-se das lembranças, momentaneamente e para o próprio bem. Apagar da memória aquela época de que eu sempre tive muita saudade. Um tempo turbulento, mas de pureza. Bonito, verdadeiro. De descobertas, revelações e expectativas. De curiosidade. De sorriso no rosto. De felicidade. Um tempo que deveria ser eterno.

É doloroso demais lembrar das palavras duras de quem quer voar, como se estivesse em uma prisão repressora de sonhos. Quando foi que isso virou o que virou? Não era pra ser assim. Era pra sonharmos juntos. Pra voarmos juntos.

É de doer a alma. Essa dor eu já senti uma vez, não me lembrava como era. É a dor mais desgraçada que alguém pode sentir. É de uma intensidade tão brutal que te faz espremer os olhos, apertar os braços cruzados pelo ventre, se encolher em posição fetal, sem ter força nem para chorar. É a dor do perdedor, do impotente. Como se arrancassem uma parte vital de você, compulsoriamente.

A boa notícia é que a dor passa. Mas às vezes demora. E quando ela arrefece, é preciso entender que parte é essa que levaram de você. Se ela é mesmo vital, o que ela representa.

E cá estou. Num momento turbulento lá fora e estranhamente calmo aqui dentro. Não há uma clareza completa de tudo, mas tem uma serenidade imensa, que me conforta, me faz sorrir, seguir, mas também me assusta.

Já não sei mais se eu sou uma sonhadora romântica. Ou se o romantismo é só o medo do abandono. É só um disfarce para o trauma - é inacreditável que esse trauma ainda me atormente. Talvez ele é que me faça agir sistematicamente, em busca da garantia do não abandono. E é justamente a forma sistemática de agir que repele em vez de atrair. O movimento se repete. E isso, sim, me apavora.

No mais, é o descompasso. Os caminhos que deixaram de ser paralelos. É possível seguir mesmo assim? É. Conheço seres humanos que por muito amor e com muito mais paciência e compreensão continuam caminhando. Às vezes por estradas diferentes, mais longas, afastadas... mas para o mesmo destino. O descompasso pode inviabilizar uma relação entre duas pessoas que se amam? Não deveria. Desde que elas realmente se amem. E queiram a mesma coisa: chegar ao mesmo lugar.

Me lembro agora de um diálogo de um filme com Robin Wrigh Penn: "casamento só dura com muita força de vontade, porque o amor vai e vem, ao sabor da brisa".

E ela - a brisa - pode agir quando você menos espera: durante um jantar romântico, na fila do cinema ou numa esquina movimentada dos Jardins.

C'est la vie...

*

2 comentários:

Anônimo disse...

by far a coisa mais bonita que você ja escreveu...

Dani Zebini disse...

Tati, que lindo. Isso também vai passar, viu, flor? Prometo pra você. Eu corto meu dedinho...rsrsrs
Beijos!