6.7.08

Se Beber, Volte de Táxi

E então o governo decidiu que pra diminuir o número de acidentes de trânsito, ele tem que acabar também com o lazer de um número grande, bem grande de pessoas.

A Lei Seca não é propriamente “seca”. Porque permite que você dirija sob o incrível efeito de até 2 decigramas de álcool por litro de sangue (menos de um chope). E não proíbe ninguém de beber, só veta a direção depois de pelo menos um inocente chopinho.

Eu ainda não tenho uma opinião totalmente formada sobre essa lei. Sei que me vi obrigada a fugir de uma blitz há 15 dias, que fez parar a Avenida Paulista à uma e meia da manhã. Não por nada, nem tinha bebido, mas eu tava com sono e fugi, mesmo (do congestionamento, na verdade). Ontem, meu coração acelerou. Uma da manhã, eu estava voltando para casa do namorado, de novo morrendo de sono, quando avistei aqueles giroflexes na Avenida Ibirapuera. Falei: fodeu! No que ouvi do meu lado, o namorado: fodeu, mesmo! Eu tinha bebido uma garrafinha long neck e meia de cerveja. Isso dá bem mais que 2 dg de álcool por litro de sangue, que não me fazem nem cócegas nos dentes.

Já conversei com médicos que explicaram que apenas um chope ou uma taça de vinho é suficiente para alterar os reflexos de uma pessoa. Mas não os meus. Eles confirmam: isso varia de organismo para organismo; de acordo com o peso, altura e resistência que cada um tem ao álcool. E a minha é boa. Pois ontem me vi prestes a assoprar aquele canudinho chamado bafômetro, perder a carteira de habilitação e pagar MIL reais de multa por causa de uma long neck e meia que não me faz ser capaz de matar nem uma mosca, quanto mais alguém no trânsito. Felizmente, o PM deve ter ido com a minha cara e não me parou.

Eu sou a favor de medidas que visem a tentar diminuir o número de acidentes e de vítimas do trânsito. Mas... pêra lá! Eu, dezenas de pessoas que conheço e tantas outras milhares não são bêbadas loucas que enchem a lata e saem dirigindo por aí. Há que se punir os bêbados e não as pessoas que bebem moderadamente, com responsabilidade, inclusive na hora de dirigir.

Antes desta, existia uma outra lei, cuja tolerância era um pouco maior: 6 decigramas de álcool por litro de sangue, o equivalente a 2 chopes. Não é razoável? E por que nunca ninguém fiscalizou essa lei? Por que nunca se aplicou? Por quê? A fiscalização intensificada desta vez me faz acreditar que, a despeito de tentar diminuir a tragédia, o governo quer mesmo é arrecadar mais.

A saber: no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, o limite é de 8 decigramas de álcool por litro de sangue. Em Buenos Aires, são 5 decigramas. O país mais rígido da Europa é a Noruega, com tolerância igual a do Brasil.

Mas como eu disse antes, ninguém está proibido de beber, e sim de dirigir depois de beber. Então, já que o objetivo não é fazer as pessoas pararem de beber, cadê as alternativas para elas? Eu vou ao bar de táxi? Volto de táxi? Com isso, tenho que reservar pelo menos 50 pilas extras. Se eu sair para dançar, tomar duas cervejas e quiser voltar de madrugada, mando o motorista do Lula me buscar? Cadê os “night buses” de Londres? Ah, não tem. E Metro funcionando até 2 da madrugada? Ah, também não tem. Qual é o objetivo da lei, me$mo?

Há quem defenda a rigidez da medida como forma de educação à população. Conversei com um médico que teve uma irmã morta em um acidente provocado por um bêbado. Ele diz que o choque é positivo. E que depois de um tempo o governo poderia flexibilizar a tolerância mínima. Outro acha que devemos abrir mão um pouquinho da nossa liberdade individual em nome de um bem comum maior. Tudo isso parece lindo. Eu concordo 100% com as teorias. Mas quando me vejo com o coração na boca ao passar por uma blitz por causa de uma long neck e meia, depois de ter trabalhado a semana toda que nem uma camela do Saara e de ter pago todos os meus caros impostos em dia, eu nutro ódio, ódio, ódio pela Lei Seca.


A saber 2: O crítico de gastronomia da Folha de São Paulo, Josimar Melo, escreveu um ótimo artigo sobre o tema: aqui.

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6 comentários:

Unknown disse...

Seu post foi o melhor que já li até o momento sobre o tema.
Partilho da mesma opinião!

(Jantar romântico? Happy hour? Nunca mais, se depender dessa lei ridícula!)

Anônimo disse...

má, eu tô ficando meio trasntornada com essa lei. juro!

pior que eu ouço cada comentário reacionário, moralista e sem cabimento, do tipo "transporte de madrugada pra bêbado???"

desde quando alguém que toma duas taças de vinho é bêbado?????

tô começando a achar, de verdade, que cada sociedade tem os governantes que mercem. mesmo!

Anônimo disse...

É....tbm acho e já disse q a grande questão não é a lei em si. A lei está certa: não se dirige depois de beber. Ponto. Isso de fato diminuirá o número de acidentes.
Sua intolerância tvz seja excessiva. Tvz, pq como dito a alteração varia de organismo para organismo e o melhor seria nivelar por baixo mesmo. Não se pode negar a ignorância de um povo.
A grande questão na verdade são duas:
1 - para toda lei que se preze, a pergunta: por quanto tempo haverá essa fiscalização intensa? bom, depende da rentabilidade, acho eu.
2 - Como ja colocado: e as alternativas ao carro à noite? Rio de janeiro tem ônibus 24 horas, muitas cidades européis têm serviçõ de transporte de madrugada e São Paulo? Matéria da Folha dessa semana: falta transporte de madrugada nos bairros onde há maior concentração de bairro e vida noturna.
Tá tudo errado!!!! O estado, na minha opinião, não tem que achar a solução pra um problema na proibição e sim na oferta de atividade.
Primeiro a proibição dos caminhões no centro expandido. Ok, medida até aceitável. Claro, pra quem não dirige um Scania por 16 horas nas lindas rodovias brasileiras tendo que cumprir os prazos malucos impostos pelos teus empregadores!!!
Cadê o Rodoanel? que aliás deveria já ter sido construido nos anos 70.
Segundo: essa lei ditatorial que sumariamente te proíbe de beber na rua.
Aliado a tudo isso, o PSIU (não vou divagar sobre isso, se tornaria um post mais extenso do que ja está) que obriga os estabelecimentos a fechar num horário desprovido de transporte público.
Bom, juntando tudo isso, só me restou uma saída para continuar bebendo aquela cervejinha e voltar pra casa sem correr o risco de desembolsar mil realetas: um novo sistema de transporte que vai revolucionar a cidade de São Paulo e devolver aos cidadãos a tranquilidade de sua vida boemia!!! O Sist. Carona Pau de Arara!!!!!
Esse é o país do jeitinho!!!!e, pelo jeito, vai continuar sendo....

Andrea disse...

A sua história da blitz me fez lembrar de uma que aconteceu com a gente há dois anos, na Alemanha, terra oficial da cerveja. Estávamos lá durante a Copa do Mundo e bebemos a tarde inteeeira e noite adentro, antes, durante e depois do jogo Brasil X Japão (acho que era esse). Num certo momento, o Julien resolveu parar de beber para pegar a estrada de volta para a casa, acho que uns 100 km, de madrugada (ele resolveu dirigir para deixar minha amiga - a motorista oficial, que fazia aniversário naquele dia - bebemorar). Ele parou de beber pelo menos duas horas antes de pegar ao volante, mas a gente sabe que o álcool permanece ali pelo menos até o dia seguinte, né?!
Quanto estávamos quaaaaase chegando na casa da minha amiga, blitz na boca da cidade. Um guarda alemão vê o Julien ao volante e quatro mulheres bêbadas no carro e diz: "Vai me dizer que vc foi o único que não bebeu..." E o cara-de-pau responde: "Isso mesmo". Lá vai Julien para o outro lado da estrada assoprar no bafômetro e eu ficando histérica dentro do carro prevendo a noite na delegacia, o Julien preso, passaporte apreendido, com carteira de motorista que nem é aceita lá...
Mas o "resistente" voltou e passou no teste! Liberaaaaadooooo, hahahahha! Aqui vai a dica dele: chupou uns cinco Mentex antes. Sei lá, de repente funciona, né?!

Aliás, o limite aqui na Grã-Bretanha é um tanto quanto ridiculamente alto (o maior da Europa): dois pints, o que signfica mais de um litro de cerveja e, meu, dá para ficar bastante alterado com essa quantidade...

Anônimo disse...

nossa! que medoooooo!

mentex JÁ na bolsa!

mas aqui, dea, tenho quase certeza de que daqui a alguns meses não tem mais blitz em lugar nenhum. a polícia não tem estrutura pra manter 300 policiais por noite em blitz pra sempre.

e mais: vc e o ju não se alteram com 2 pints, que eu sei! hahaha...

Patrícia Carvoeiro disse...

Ah, saudade da época em que já deixei o Filial depois de OITO chopes (tomados em várias horas de bar, não em duas ou três, o que contribui pra que o efeito passe bastante após inúmeras idas ao banheiro). E sim, voltei dirigindo numa boa. Eu seria a primeira pessoa a me tocar, parar o carro e pegar um táxi, se percebesse que tava sem condições de dirigir.
Eu sou super resistente ao álcool, o Tuca com duas long necks acorda de ressaca no dia seguinte. rs
E ele sempre se assusta, me acha meio "estivador russo". rs
Esta lei me assusta demais também. Já passei alguns sustos por causa destas blitzes também. Mas descobri que mulher dirigindo sozinha (ou com um homem ao lado, como é o meu caso qdo tô com o namorado), eles praticamente não abordam. Que assim seja pra todo o sempre, amém. :P

(Nossa, me senti acordando de uma hibernação! Há quanto tempo eu não vinha no seu blog? Shame on me! Mas pelo menos comentei o suficiente pra encher seu saco até vc não querer ver minha fuça aqui tão cedo! rs)

Beijos! ;)