7.5.08

Holidays In The Sun

Tem mil coisas pra dizer sobre Londres, but the time is over. Tudo já voltou a ser como antes na segunda feira e, se eu bem conheço a minha rotina, até eu voltar aqui pra escrever sobre a viagem... De modo que este será o último relato sobre a Terra da Rainha – até porque, convenhamos, ninguém agüenta mais esse assunto...

Tower Bridge

Como Londres é nublada a maior parte do ano, o sol é um evento por lá. Um evento, mesmo! Bastou ele aparecer para as pessoas se jogarem sob ele: nos parques, nas mesas na calçada, ou na própria calçada. Grupos se aglomeram na faixa iluminada pelo astro rei para tomar cerveja, fazer um lanchinho ou jogar conversa fora. Quando tem sol, os britânicos se atrevem até a... sorrir! A fisionomia das pessoas muda. É muito louco! Meus anfitriões me fizeram prestar atenção nisso e é verdade. Todos ficam mais alegres e gentis quando o sol dá as caras.

A previsão do tempo na televisão é algo muito, muito importante, eu percebi. “Amanhã vai fazer sol entre nuvens” e todos comemoram abrindo uma garrafa de vinho!

uma tarde em Bricklane, ao sol que arde em Bricklane

Como é sabido, Londres tem uma infinidade de parques. É lindo ver como os moradores da cidade se apropriam do espaço público como se estivessem... em casa. Afinal, se o espaço é público, é mais ou menos pra isso que ele serve, para as pessoas se apropriarem dele. De modo que eu presenciei cenas belíssimas de gente almoçando na praça, nos parques, fazendo um lanchinho sentado na grama, num banco no meio da rua. Até reunião de trabalho no Green Park eu vi! Juro que essas pessoas aí embaixo faziam anotações em agendas e uma delas até portava um laptop.



Foi nesse dia que, fingindo que eu era londrina – depois de ver a troca de guarda no palácio de Buckingham, como uma turista legítima – resolvi relaxar no Green Park. Existem espreguiçadeiras espalhadas por todo o parque. Mas há quem prefira a grama, à sombra de uma árvore. Escolhi o par de cadeiras que mais me aprazia e me joguei. Mochila em uma cadeira, eu na outra. Abri meu livro e desfrutava tranquilamente de uma tarde de sol, quando um homem se aproxima de mim, com uma máquina pendurada no ombro por uma alça. O diálogo abaixo é absolutamente fiel à realidade:

- Your ticket, ladie.
Tata pêga de surpresa, só conseguiu perguntar:
- For what?
- Chair is not free.
Tata mais surpresa e estupefata ainda, não teve tempo para pensar como perguntava quanto teria que pagar por ela e respondeu:
- Reeeaaally? Sorry, I didn’t know. I’m sorry!

Homem se afasta balançando a cabeça, negativamente. Tata humildemente guarda seu livro, sua garrafa d’água, recolhe sua mochila e vai procurar um pedaço de grama, onde possa ler em paz. E de graça.

Green Park, 13h de uma quarta feira

Por fim, é muito confortável constatar que você pode voltar pra casa de metrô e andar duas quadras e meia até em casa às 11 e meia da noite, sem se preocupar muito se a sua carteira vai continuar dentro da mochila pendurada nas costas quando você chegar. Porque ninguém vai tirar ela de lá. Tem assalto? Tem, como em qualquer lugar do mundo. Um pouco antes de eu chegar, uma amiga da minha anfitriã foi assaltada perto da casa dela. Um sujeito a abordou com uma faca, pediu a bolsa e foi embora. Mas não aproveitou a abordagem pra dar dois tiros na moça, uma facada ou uma porrada na cabeça dela. Levou o que queria e acabou. E essa diferença é importante. As pessoas não vivem tensas porque podem ser roubadas e mortas a qualquer momento na rua, no ônibus, no semáforo. Porque a freqüência dos crimes e a crueldade deles é infinitamente menor. Enfim, não sei se me fiz entender...

pôr-do-sol, visto da Waterloo Bridge, às 20h37

Me parece que Londres poderia ser uma cidade embrutecedora também, como São Paulo é para mim. Mas voltei de lá convencida de que é possível evitar esse processo terrível com atitudes simples de gentileza, de civilidade, de cidadania. A nossa cidade funcionaria muito melhor, não obstante a falta de assistência do poder público. Voltei disposta a resistir ao embrutecimento, ao estresse, à loucura que os congestionamentos provocam, ao mau humor e à falta de educação das pessoas praticando pequenos gestos. Pode parecer piegas e polyana demais, mas... você já deu um sorriso hoje? Deu passagem para o motorista que ligou a seta do carro e pretendia entrar na sua faixa? Quantas vezes você acionou a buzina? Deu bom dia para o seu vizinho no elevador? Tratou bem o garçom que te atendeu no restaurante? E a moça do caixa do supermercado?

Experimente!

*

6 comentários:

Anônimo disse...

Chair is not free.
Poisé... Tem uma lenda urbana (não sei se é lenda mesmo ou mera profecia...) segundo a qual os bancos passarão a cobrar aluguel do piso se os clientes demorarem muito tempo na fila...

Sabe o que me dexa mais pê nessa história toda? É que, além de iniciativas polyanas como a sua serem raríssimas... ainda tem o fato de que quem mais reclama que "o governo isso, o governo aquilo" são os primeiros a invadir o acostamento pra fugir do congestionamento, a comer biscoito no corredor do supermercado e sair sem pagar, a achar que furar a fila do cinema não tem pobrema nenhum,... enfim, são os que pensam (?) que cidadania é obrigação só "dos outros"...

Lica disse...

Hahaha Tati caloteira! rs

Conta mais! Conta mais!

E concordo com o que escreveu no final!!!

BEijosss

Unknown disse...

Pagar para sentar na cadeira? Putz!

Certíssima sua conclusão final!

Anônimo disse...

Ai como vc é chic...um dia ainda vou por estas bandas viu..

Andrea disse...

Olá! Estou adorando seu blog! Uma informação extra para o ponto em que você disse que as pessoas se sentem em casa no parque: na semana passada tinha uma executiva abrindo a camisa e escancarando os peitos - com sutiã - para fora para pegar uma corzinha na pele semi-albina dela. Aliás, mulherada que tira a roupa inteira e fica tomando sol de biquini alternativo - o que quer dizer calcinha e sutiã - não é muito raro aqui também, não! :-)

Cami disse...

Governos e urbanistas são responsáveis pela organização espacial das cidades e por sua humanização. Humanos são responsáveis por fazer valer e manter essa condição.
O Ibirapuera é imundo, as calçadas são terríveis (sim, a responsabilidade das calçadas é do proprietário do estabelecimento ou residência) e a atitude das pessoas no trânsito contribui para os 200 km de congestionamento recém anotados.
"Cidadãos" egoístas que acham q o governo (por mais corrupto e contra producente) seja responsável por lhes garantir a estadia no paraíso.
Se a cidade de São Paulo vier a ser um "paraíso" algum dia (e, juro, como futura urbanista acredito na possibilidade), no que depender de seus habitantes, em 3 semanas já se tranformaria numa 25 de março em véspera de Natal. Para a cidade, torna-se insustentável essa posição pela ignorância e má educação de seu povo.
Nada como aprender com a experiência de outros.
Adorei o post, pequena!
beijos