28.4.08

Londres - A Chegada

Meu maior medo nem era voar, ficar sem fumar por 12 horas e agredir a aeromoça por causa da abstinência, nem o risco de dividir a fileira com uma pessoa de mais de 120 quilos - que certamente ocuparia parte da minha poltrona. Era a imigração! Esse monstro que a mídia daqui criou na minha cabeça, com tanta notícia terrível de que os agentes malvadões mandaram pencas de brasileiros de volta de vários países.

Fui preparada. Levei um calhamaço de documentos que comprovam vínculo com o meu país, carta da empresa assinada pelo chefe, dizendo que eu sou importante para o bom andamento dos trabalhos, dinheiro vivo, passagem de volta emitida, nome completo, endereço, telefone e profissão dos meus anfitriões e toda a sorte de papéis relevantes. Na fila, ensaiava respostas mentais para as possíveis perguntas que me seriam feitas. E estava calma. Até chegar a minha vez. Tudo bem que eu tenho um histórico de desconforto em postos de imigração (a foto do passaporte é digna de uma traficante procurada pelo FBI), mas dessa vez foi demais.

Foi bem difícil convencer o senhor que me entrevistou que eu NÃO SOU TERRORISTA, NÃO IRIA ME PROSTITUIR E TINHA DATA PARA VOLTAR PARA A MINHA CASA. Mesmo mostrando para ele meu dinheiro, minha passagem, o endereço onde eu ficaria, a carta da firma, meu limite do cartão de credito e todos os 700 documentos que eu levei, ele não parava de fazer perguntas. Quando eu pensava “essa deve ser a última”, ele mandava mais uma. Fazia anotações numa fichinha. Levantava a cabeça. Olhava para mim. E perguntava, perguntava, perguntava como se não houvesse amanhã!

No começo, eu tava tranqüila e ele é que começava a se irritar com o meu inglês ruim e todos os “Sorry?” que eu dizia quando não entendia o que ele balbuciava. Mas aquele senhor conseguiu reverter a situação. Passou a nem se importar mais com o meu "hambúrguer" e nem com o que eu respondia e perguntou até onde minha mãe trabalhava, quanto eu ganhava por mês, quem pagou minha viagem, há quanto tempo eu a planejei... Pensei em dizer, por livre e espontânea vontade, que a minha calcinha era branca, antes mesmo que ele perguntasse, mas achei que não seria uma boa estratégia.

Por um momento - por mais de um, na verdade -, achei que o sujeito iria cometer a crueldade de me privar de ver o Big Ben. Mas depois de VINTE minutos, carimbou e assinou um visto de turista por 1 mês no meu passaporte. Filho da mãe!


A primeira impressão que eu tive de Londres, com a qual o senhor agente de imigração contribuiu amplamente, foi que os ingleses não falam inglês. Eles falam um outro idioma qualquer. Você pode dar o nome que quiser, mas aquilo NÃO É inglês. Aquele sotaque é infernal e eu não entendia absolutamente NADA do que aquela gente dizia. Eu gostava mais de conversar com estrangeiros (que é o que mais tem em Londres). Porque o sotaque é diferente e, dependendo da nacionalidade do cidadão, mais fácil de entender. Às vezes, o inglês deles é ruim. Who cares? O meu também é! Então, eles falavam tudo errado, eu também e, no fim das contas, a gente super se entendia. Deu até pra pechinchar preço. Uma maravilha!

Já na loja de CDs, escolhi o que eu queria e fui pra fila. Gente, o moço do caixa só precisava pegar o dinheiro e me devolver o troco. Mas ele quis conversar. Me perguntou se eu tinha encontrado o que estava procurando e aquilo que ele pronunciou não fez absolutamente nenhum sentido pra mim. Olhei, pedindo socorro, pro anfitrião que me acompanhava e fez o favor de traduzir aquele emaranhado de letrinhas que saiu da boca do caixa. Eu sorri amarelo pra ele: Yes, thank you!

(continua)

*

5 comentários:

Anônimo disse...

PREFÁCIO

Tata,

Certa feita eu tomei uma carcada monumental não lembro de quem por comentar comments separadamente sobre um mesmo assunto, então agora eu consegui (!!) amealhar todos os pensamentos num único post. Gasta o mesmo espaço mas a minha ídala fica mais feliz!... ;-)


MIOLO

"carta da empresa assinada pelo chefe, dizendo que eu sou importante para o bom andamento dos trabalhos"
Nossa... seu chefe teve as manha de mentir assim na cara-dura???

"a foto do passaporte é digna de uma traficante procurada pelo FBI"
Ué, você foi com o MEU passaporte??? Ra ra ra ra ra ra ra!!!

"Aquele sotaque é infernal e eu não entendia absolutamente NADA do que aquela gente dizia"
Tata, visite o Texas. Lá o inglês é bem mais simples. Só tem seis letras: A E I O U R. Assim, não importa se o cara tá te paquerando ou te expulsando do país, a única coisa que sai das bocas texanas é "round and round and round and round and..." (misture Bob Dylan com Michael Jackson com maciças doses de tequila e whisky vagabundos... depois tente falar "o rato roeu a roupa do rei de roma" com a boca cheia de azeitona... é mais ou menos por aí...) :-P (*)

"Então, eles falavam tudo errado, eu também e, no fim das contas, a gente super se entendia"
Esse é o so-called "inglês globalizado", ou "globlish"... Livra legalzão a barra nessas ocasiões!! :-)

"Eu sorri amarelo pra ele: Yes, thank you!"
Cê já pensou se o teu anfitrião, just for fun, resolveu traduzir tudo errado a pergunta do caixa?? Tipo assim o cara perguntou "quer dar uma volta pelo wildside pra ver se a gente encontra o Lou Reed?" "Yes, thank you"... Ra ra ra ra ra ra ra ra!!!


POSFÁCIO

(*) Ah!, e de vez em quando rola uns "fôquil" também, que até hoje eu não entendi o que significa...

Anônimo disse...

Putz! Que amolação!!!

Patrícia Carvoeiro disse...

Ah, isso tudo eu já li por e-mail umas duas semanas atrás (e morri de rir, apesar do seu perrengue todo... "sorry". :P)
Mas agora quero NO-VI-DA-DES!
Hahaha... 'A' chata! :P

Beijos!

Anônimo disse...

tronguinho: parabéns pela disciplina em dizer tudo numa caixinha só. além de me deixar feliz, voce conseguiu até me fazer gargalhar. adorei o idioma do texas! hahaha!

marília, nem me lembre. mas essa foi a parta mais mala da viagem. depois tudo melhorou bastante!

pati, larga de ser apressada. ao contrário do tronguinho, tô escrevendo em partes. e essa tinha qeu ser a primeira, ora pois...

Anônimo disse...

Rá! Tati, esses caras adoram encher o saco mesmo.... com meu irmão foi a mesma coisa, e detalhe, ele nem ia pra Londres, era só conexão! no final ele perdeu o vôo, deu um piti e o cara ficou com cara de cu né???
to louca pra ler o resto da aventura....
beijão e saudades
Juju