4.3.08

Perguntadeira

E então hoje eu entrevistei o Ziraldo. Não foi sobre o Menino Maluquinho. Foi sobre 1968. Ele contou que viu os homens do exército que chegaram atirando no Restaurante Calabouço, no Rio. E que depois viu a molecada correndo pela rua, carregando o corpo do estudante Édson Luís. Ele estava na janela da redação em que trabalhava. E participou de todas as manifestações populares contra a ditadura. E falou de Pasquim, de Gil, de Caetano, de Chicos - Buarque e Caruso - e de charges e músicas e peças e filmes.

Ele faz algumas pausas longas, como se tivesse perdido a linha de reciocínio. Mas retoma a história exatamente de onde parou, alguns segundos depois. Tem voz de velhinho de 80 anos - tem 75. E me chamou carinhosamente de filha durante toda a conversa por telefone. Lé pelas tantas, me pergunta:

- Filha, quem vai ter paciência de ouvir tudo isso no rádio?

Expliquei que não iria usar a entrevista completa. Depois de 20 minutos, fiz mais três perguntas e achei melhor encerrar. Finalizei, agradeci. E ganhei o dia com as considerações finais do velhinho:

- Você é boa de papo, hein?
- Ah, eu sou "perguntadeira"!? - disse, meio simpática, meio rindo, meio envergonhada.
- Deve ser bom sentar numa mesa de bar e papear com você numa daquelas noites boêmias! Sabe aqueles papos de fim de noite?

Recomendação aos jornalistas: em caso de baixa auto-estima, entreviste o Ziraldo.

*

6 comentários:

Anônimo disse...

Que velhinho xavequeiro, haha...

Unknown disse...

Poxa, que legal!

Patrícia Carvoeiro disse...

Ai, Roger, menas! rs

Tati, que raivinha do Ziraldo! Eu mandei uns três e-mails pra ele ano passado, querendo uma entrevista pro Cintaliga (pode achar que é maluquice isso, de falar que é pra blog e tal, mas todo mundo sempre comenta que o Ziraldo é super acessível e isso e aquilo. Não tive nenhuma resposta, sequer uma padrão, tipo "Obrigada por entrear em contato. No momento todas as nossas linhas estão ocupadas e (ops, isso é pra ligação, confundi... rs...)..."
Enfim.

Ainda tenho esperança de conseguir uma entrevista com ele, de qualquer forma.

Parabéns pela sua, tá muito boa!
Ele parece ser uma fofura. :-)

Anônimo disse...

Olha, ele pode até ser xavequeiro, é fato, mas desta vez ele acertou. Deve ter boa percepção para reconhecer jornalistas de excelente papo... Vamos chamar ele para o próximo bar?

Anônimo disse...

Quando eu conheci o Ziraldo ele ficava apertando as minhas bochechas. E eu já devia ter uns 23 anos.

Anônimo disse...

é, me soou meio xaveco, mas eu achei simpático, mesmo assim. afinal, ele tem idade pra ser meu avô! rs... doni, tá fechado. no próximo encontro, a gente chama ele! pati, certeza que ele diria o mesmo pra você. e, lelê, o "filha" a cada começo de resposta pode ser lido como um aperto na bochecha, acho. e olha que eu já tenho 30!