12.8.07

A Lo Cubano

(texto escrito em junho de 2005)

As ruas de Havana são mal iluminadas. Têm um odor forte. Muitas moscas sobrevoam a capital. As calçadas são esburacadas e um pedestre desatento corre o risco de cair e se machucar feio. O trânsito é um caos, sem sinalização nenhuma. As pessoas dirigem devagar. O pedestre que não se cuida toma uma buzinada estridente na orelha. Todas as buzinas são estridentes em Havana. É até engraçado!


Transporte
Compram-se automóveis do governo. São poucos e velhos. Nem todo mundo tem dinheiro para ter um. O cubano se locomove muito a pé e de bicicleta. Os ônibus, “camelos”, como são chamados, são grandes e têm capacidade para 200 pessoas. E vivem muito lotados. Pensávamos em nos locomover de ônibus por lá, até encontrar um passando pela rua. Nosso meio de transporte corriqueiro era o táxi, mesmo. Claro que no primeiro dia pagamos valores absurdamente altos, por falta de informação. Condição fundamental para nos ter como passageiras: ter taxímetro no automóvel. Ou negociar um bom preço, o que viesse primeiro.

Habitação
Os grandes casarões muitas vezes são divididos entre as famílias. À medida que elas vão crescendo, o espaço vai diminuindo, já que são poucos os que têm dinheiro pra ir morar em outra casa. É comum ver três gerações morando num mesmo cômodo. Na década de 60, logo após a revolução, eram comuns os sistemas de micro-brigadas. Se o sujeito queria uma casa, pedia para o governo, que o liberava de seu emprego por 3 ou 4 anos. Ele reunia cerca de 30 pessoas e o próprio grupo construía um prédio. Depois, voltavam aos seus empregos. Hoje, não funciona mais.

Saúde
A emergência nos hospitais às vezes é deficitária. Ouvi uma história horrível de um homem que deslocou o ombro e precisou fazer cirurgia. Não pôde ser atendido na hora. Depois, não havia anestesia. Colocaram o ombro do cara no lugar a sangue frio, apenas com algumas doses de rum. Apesar disso, Cuba é, sim, referência em muitas áreas da saúde, como a oncologia.
A propósito, um médico ganha, em média, 21 dólares por mês. Sim, POR MÊS.

Educação
É garantida a todos, até a universidade. Segundo nosso amigo cubano, a educação em Cuba é boa, mesmo. Nessa área, o sistema efetivamente funciona!

Emprego
O governo garante. Só não garante que haja vaga na sua área. Sempre de acordo com nosso cubanito amigo, o salário mínimo é de 225 pesos cubanos. E é proibido ter mais de um emprego no país.

Alimentação
Todo chefe de família possui uma caderneta (parecida com aquela carteira de vacinação daqui). Nela é anotada a cota de produtos subsidiados pelo governo que ele recebe por mês nas bodegas. Só recebe leite quem tem criança até 7 anos. 2 quilos de leite em pó custam 5 pesos no chamado “mercado negro”. Há escassez de produtos. Não tem carne de vaca. Na caderneta que eu vi, a família ficou 3 meses sem receber sabonete. Uma outra pessoa lembrou que a quantidade de arroz subsidiada não é suficiente. Quem quer comprar mais, vai até o mercado de camponeses. Meio quilo de carne de boi, por exemplo, sai por mais ou menos 2 dólares e meio.

Segurança
Sim, Havana é uma cidade segura. Não há crimes, violência, assaltos e roubos como estamos acostumados por aqui. Há muitos policiais nas ruas, todos desarmados. Mas é bom ficar de olho na câmera fotográfica.

Lazer
Sábado à noite o Malecón ferve. O Malecón é avenida da praia, com calçadão e tudo. A diversão das pessoas é reunir os amigos na mureta, cantar e beber muito rum. Eita povo alegre! Cubanito nos disse que os jovens de Havana bebem e fumam muito.
No Cine Yara (em La Rampa) notamos um grande número de filmes norte-americanos em cartaz. Parecia estranho, já que não existem relações comerciais entre os dois países (o tal do embargo e tal...). Cubanito tinha a resposta: os filmes vêm por satélite, são copiados. Sim, pirateados, mesmo. Há cortes nas partes que ideologicamente não são interessantes, antes de serem projetados nas salas. E todos são dublado, ninguém ouve nada em inglês.

Só algumas pessoas têm acesso à Internet. O cubanito tem, mas disse que vários sites são bloqueados. Ele também tem acesso ao MSN, mas todos os diálogos passam por dois intermediários da censura.

Patrulha ideológica
Cubanito não quis mais nos esperar no lobby do hotel a partir do terceiro dia. Estava sendo rodeado sutilmente pelos seguranças. Na praça onde passamos a nos encontrar diariamente, os policiais também ficavam de olho, que eu vi.
Conversamos sobre todos os assuntos. Mas era mais seguro interromper o diálogo quando o garçom vinha trazer nossas bebidas.

Oposição ao regime?

Existe. São os grupos de direitos humanos. Onde há membros do governo envolvidos. E como todo mundo sabe disso, quase ninguém participa. Então, não funciona.

Povo
O povo cubano é muito alegre, muito festeiro, muito solícito. Quase todo mundo fala com você com sorriso no rosto. Perguntam das novelas, sucesso absoluto em Cuba. Aliás, tive o prazer de ver um capítulo de “Esplendor”, dublada em espanhol. Ficou engraçada!


lamento a limitação desta droga de blogspot, que não me permite colocar fotos de nada. tinha umas ótimas...

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